sábado, 15 de julho de 2017

Um óbolo, duas canções e sete notas musicais

O Grupo Jesus de Nazaré inventou um trabalho neste sábado, dia 15 de julho, quando da apresentação da lição sobre "O óbolo da viúva" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 13) por Carminha e Maria Augusta. Essa invenção foi muito feliz e resultou como na expressão do título desta postagem e já, já veremos por que. A esse trabalho compareceram, além das companheiras citadas e deste Coordenador-escriba, Egnaldo, Cristiano, Fernando, Eliete, Eliene, Cláudia, Marilene, Valquíria, Waldelice, Lígia, Magali, Cristiane, Jaciara, e Iva. Para começo, foi lido o texto evangélico e em seguida pediu-se que os presentes se juntassem em duplas para as discussões prévias em torno da temática, antes da partilha, conforme as duas consignas, dadas uma de cada vez:
1 - Quando o pouco de alguém foi muito para você? e
2 - O que você tem de si para dar?

Mas quando a segunda consigna foi dada a conhecer, este Coordenador, que, claro, já sabia desse fato, apresentou o seguinte poeminha, explicando que o "si" da frase também podia ser tomado como uma das sete notas da escala musical:

O que você tem de si para dar?
- tenho  para chorar
 para esperar
mi para sonhar
 para cantar
 para chegar
sol para brilhar

Aberta a partilha, Marilene citou um fato acontecido em 1989 que teve muita importância para ela: lembrou-se da "perda" de seu primeiro filho, desencarnado aos quatro meses de idade, engravidando outra vez logo depois; um dia, já tendo saído da repartição onde trabalhava, o diretor a procurou e disse que ela precisava muito daquele filho e que Deus iria abençoá-la; "no dia do parto" - controu - "o obstetra fez todo o serviço cantando"; quanto à segunda questão, revelou ter o tempo para doar, junto com o desejo de trabalhar, o que fez junto à família e a todos que a buscam por auxílio.
Eliene, em seguida, também voltou bastante ao passado, recordando o nascimento de seu primeiro filho, quando viu, em determinado momento, sua sogra e sua genitora irem embora e ela, ainda no resguardo do parto, ficou sozinha para cuidar da criança, que nascera com aproximadamente sete quilos; mas contou com a ajuda de duas pessoas das quais, disse, jamais se esquecerá: uma vizinha que organizava sua casa e preparava os alimentos e um rapazote que fazia os demais serviços, uma vez que o marido trabalhava profissionalmente para custear as despesas; segundo a companheira, essas pessoas "não moram em meu coração, moram na minha alma"; quanto a dar de si, ela explicou que "às vezes sou grossa, não passo a mão nas costas de ninguém, mas também sei dar carinho, não sou hipócrita".
Também Eliete fez uma viagem no tempo e chegou a uma ocasião do ano de 1972, quando, mãe solteira, muito nova e desempregada, encontrou-se com um antigo colega da escola no interior de um ônibus coletivo e esse rapaz, de quem ela jamais esqueceu e a quem costuma endereçar suas preces, indicou-lhe a Cobem dos primeiros tempos e esse fato mudou sua vida, pois logo encontrou uma boa colocação de emprego que lhe garantiu a sobrevivência da família; de si mesma, para dar aos outros, ela apontou a energia: "Com ela, sirvo a Deus, pedindo força e coragem para ajudar o próximo, a família e a esta Casa", completou.
Depois foi a vez de Jaciara, esta ressaltou haver muitas situações assim em sua vida e recordou que no ano de 1998 um "anjo" apareceu na vida dela, então hospitalizada para uma histerectomia após a qual sentiu dores atrozes e implorava pelo alívio até que um enfermeiro entrou em seu quarto e, contrariando as ordens médicas quanto ao horário das medicações, aplicou-lhe uma dose de morfina: "Nunca senti tanto bem-estar na vida", disse ela, acrescentando que aquilo foi "transcendental"; sobre a segunda proposta do trabalho, considerou a dedicação ao trabalho o que de melhor pode dar a alguém.
Para Egnaldo, que tem uma história pautada pela orfandade, "um pouco do carinho de alguém é sempre excepcional"; com humor, ele contou que veio do interior para a capital literalmente "por cima da carne seca", porquanto ainda garoto viajou na carroceria do caminhão de um primo que veio entregar uma carga de chaque; segundo disse, é importante reconhecer a capacidade dos outros e por isso, no tocante à outra consigna, vê-se ainda egoísta e apenas doa coisas, embora veja que "o melhor é dar um sorriso, o acolhimento, a boa vontade". Magali observou, por seu turno, que "desde pequena recebo o pouco das pessoas como riqueza para mim e minha irmã", apontando que esse pouco veio principalmente da mãe e da avó, que as criaram "com muita dificuldade material, mas não faltou amor"; ela salientou não ter dado nada em troca, acreditando que "sempre fui o gazofilácio na presença das viúvas".
Marilda, aos sete anos de idade, era muito doente, segundo contou, e seus pais faziam tudo para que melhorasse, mas nem os médicos nem ela própria jamais souberam a causa de tal enfermidade; nessa época ela começou a ver espíritos e por causa disso seu pai a levava "a lugares que assustavam mais ainda"; um dia, contudo, indo com o genitor a uma cartomante, alguém pronunciou a expressão Deus é mais e esse fato teve um grande impacto na alma desta companheira, que então passou a considerar a existência de Deus, fazendo-a perder o medo e nascer a esperança; de si mesma para dar, disse ter o acolhimento: "Recebo e auxilio a todos na medida das minhas possibilidades", salientou.
Depois foi a vez de Iva, que igualmente reportou a infância numa família pobre que não fazia suas vontades, ainda que sua mãe fosse carinhosa e fizesse o bem; ela recordou o afeto recebido do padrinho de seu irmão e da esposa dele, que a tratavam "como uma princesinha"; ela, que é viúva, ressaltou ser como aquela observada por Jesus: "Faço o que posso e só ponho a mão até a altura da cabeça; mas tenho muito carinho para dar, por me sentir também carente, e não digo não a quem precisa".
Antes do fechamento da atividade, Carminha quis dar seu depoimento e revelou que, na preparação do trabalho, não tinha se dado conta de sua viuvez cuidando apenas o assunto em pauta, e depois que caiu em si não se sentiu melindrada "porque ainda me sinto casada"; para ela, "o pouco que o outro me dá é grandioso" e mesmo uma palavrinha pode ser o remédio para uma grande dor, "no rumo da nossa vida"; a companheira também ressaltou ter muito para dar, "mas, se dou, é outra questão"; ela considerou que, devido ao nosso egoísmo, "nos fechamos muito em nosso casulo, mas quando começamos a ver o outro, tiramos nossas cascas e vamos ajudar alguém".
Por fim, Maria Augusta declarou ter recebido muito de sua mãe e do filho desencarnado, que a ensinaram a ter paciência e a perdoar os familiares: "O bem e o perdão são essenciais em minha vida", disse, frisando, contudo, que ainda sente dificuldade em dar o perdão. Em seguida, ela leu o texto do Espírito Emmanuel (transcrito a seguir) e dele distribuiu cópias aos presentes, encerrando sua participação. Mas antes que ela fizesse a prece, Iva pediu para cantar uma música e entoou uma canção desconhecida dos integrantes do Grupo, após o que, inspirado, este Coordenador também fez ouvirem a composição de Alberto Costa conhecida como "Fica sempre" (letra abaixo).

Fica sempre um pouco de perfume
nas mãos que oferecem rosas
nas mãos que sabem ser generosas

Dar o pouco que se tem a quem tem menos ainda
engrandece o doador, faz sua alma inda mais linda

Dar ao próximo alegria parece coisa tão singela 
aos olhos de Deus, porém, é das artes a mais bela

(letra e música de Alberto Costa)

***

O óbolo

Dentro do pouco que te limita a existência, atenderás às necessidades que hoje, aparentemente sem expressão, quais sementes desvaliosas, serão, no futuro, verdadeiras messes de talentos celestiais. É assim que solucionarás modestas despesas de conteúdo sublime, quais sejam:
O copo de leite para a criança necessitada.
A sopa eventual para os que passam sem rumo.
O remédio para o doente esquecido.
O socorro fraterno às mães caídas em abandono.
O agasalho singelo aos hóspedes da calçada.
O prato adequado ao enfermo difícil.
O colchão que alivie o paralítico em sombra.
A lembrança espontânea que ampara o menino triste.
O concurso silencioso, conquanto humilde, em favor do amigo hospitalizado.
O serviço discreto às casas beneficentes.
O livro renovador ao companheiro em desânimo.

(Emmanuel/Chico Xavier)


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