sábado, 30 de junho de 2012

Eu, libertino

A atividade deste sábado, o último de junho, rendeu bastante conversa em torno da noção de libertinagem moral, para o trabalho vivencial que contou com a participação de Valquíria, Bia, Egnaldo, Fernando, Quito, Fernanda, Railza, Ione, Isabel, Iva, Acely, Carminha, Edward (Jr.), Waldelice, Marilene, Marilda e Lígia, mais os coordenadores - Francisco e Maria Luiza.
Para a realização do trabalho, dividimos a turma em dois grupos, que passaram a comentar o questionamento formulado, inscrito no quadro à vista de todos: "Minha conduta é pautada pelas determinações do Evangelho ou estou deliberadamente me afastando delas? Até que ponto tenho sido libertino?" A princípio, pareceriam duas perguntas diferentes, mas, como vimos depois, o descumprimento das lições propostas pelo Cristo constitui essa libertinagem moral que o apóstolo Judas Tadeu se empenhou em combater em certos "mestres carismáticos", conforme narrado em sua epístola, nos Atos dos Apóstolos do Novo Testamento.
Como provocação para essas conversas, lembramos dos versos da música "Sociedade alternativa", composição de Raul Seixas e Paulo Coelho:

"Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva! Viva!)
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva O Novo Aeon!)
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa
(Viva! Viva! Viva!)
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa...

Se eu quero e você quer
Tomar banho de chapéu
Ou esperar Papai Noel
Ou discutir Carlos Gardel
Então vá!
Faz o que tu queres
Pois é tudo
Da Lei! Da Lei!
Viva! Viva!
Viva A Sociedade Alternativa..."

Naturalmente, no tocante à libertinagem moral em face à observância dos princípios evangélicos, vimos que a ideia dos compositores é equivocada e é nesse equívoco que se funda a ação dos libertinos, porquanto o apóstolo Paulo nos diz, numa de suas epístolas, que "tudo me é lícito, mas nem tudo me convém", de modo que é preciso agirmos com discernimento. O Cristo, a esse respeito, pede-nos - uma vez alistados entre seus seguidores - uma postura coerente com seus ensinamentos: "Seja o teu falar sim, sim; não, não".
Lembramos, também, que em O Evangelho Segundo o Espiritismo Allan Kardec comenta, reproduzindo instrução de um Espírito, que cada geração tem a virtude que a elevará e o vício que a faz perder-se: "A virtude de vossa geração é o progresso intelectual e seu vício é a indiferença moral". Não será por isso que nos é tão difícil, ainda, vencer o egoísmo e o orgulho, ao passo que há dois mil anos ouvimos na acústica da consciência os apelos em prol do amor ao próximo, mesmo aos inimigos? 
Valquíria, assim, falou-nos do uso do livre arbítrio, que isso decorre do nível evolutivo dos indivíduos: quanto mais evolvida a criatura, mais responsável e comprometido com o bem é esse uso. Railza também compreendeu assim e ressaltou que a ação deliberada na posição contrária ao Cristo é assaz comprometedora. Iva considerou que a atividade permitiu-lhe um novo e melhor entendimento sobre si mesma, chegando à conclusão de que se agride muito, apesar de (tentar) viver segundo as determinações do Evangelho; nessa condição, disse, desenvolve o sentimento de culpa e isso é uma autoagressão.
Por sua vez, já no fechamento do trabalho, Edward Jr. revelou ser libertino sempre que dá as costas aos ensinamentos de Jesus, quando é intolerante, quando deixa de ser solidário, quando manifesta o egoísmo etc. Ione, aproveitando a oportunidade, observou que o essencial é sabermos auxiliar os bons espíritos desde já, preparando nosso retorno ao plano espiritual em melhores condições.




quarta-feira, 27 de junho de 2012

Tadeu e a libertinagem

De acordo com o texto do EADE referente ao apóstolo Judas Tadeu, este é o autor da epístola de Judas relacionada no livro dos Atos dos Apóstolos, compilado historicamente pelo evangelista Lucas. Essa carta teria sido "escrita a uma igreja ou grupo de igrejas desconhecido para combater o perigo representado por certos mestres carismáticos que estavam pregando e praticando libertinagem moral".
Eis, então, o tópico do trabalho deste sábado no "Jesus de Nazaré", quando procuraremos analisar se estamos de fato cumprindo as determinações éticas do Evangelho, ou se também nos ocupamos do desvirtuamento dos ensinos cristãos, sendo, por nossa vez, outros libertinos...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Por causa de João...

...não o apóstolo, o Evangelista, mas o precursor, o Batista, cujos festejos acontecem neste fim de semana, este sábado, 23 de junho, passará em brancas nuvens para o Grupo Jesus de Nazaré, cujos integrantes vão se misturar às comemorações principalmente viajando ao interior do estado, em muitos casos, para um merecido repouso ao lado dos familiares. No retorno às atividades, voltaremos, no dia 30, a abordar as peculiaridades da participação de Judas Tadeu no colégio apostolar de Jesus, o Cristo de Deus. 

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Os mistérios de Tadeu

Falar sobre Judas Tadeu não é tarefa das mais fáceis, poucas são as informações disponíveis e aceitáveis acerca desse apóstolo de Jesus. Essa dificuldade ficou patente no trabalho que o "Jesus de Nazaré" realizou no sábado passado, dia 16 de junho. Como na próxima semana nos daremos um recesso em razão dos festejos juninos (o louvor é para João Batista e não o Evangelista!), teremos um tempo maior para refletirmos um pouco mais sobre os mistérios que envolvem essa personagem do Evangelho, identificado como um dos parentes de Jesus e confundido com o apóstolo que "traiu" o Cristo, o Iscariotes, posto que ambos se chamava Judas.
Ao trabalho desse sábado compareceram Acely, Valquíria, Railza, Roberto, Fernanda, Fernando, Egnaldo, Quito, Isabel, Iva, Regina, Lígia, Marilda, Maria da Paixão e Waldelice, mais os coordenadores Francisco e Maria Luiza e uma nova integrante, Ione, que estreava. Dentre os faltosos, observamos a ausência de Carminha, Magali e Edward, envolvidos com os preparativos do Forrobem, ou o Forró da Cobem, que aconteceria logo mais, à tarde.
Após a leitura do exíguo texto do módulo do EADE, introduzimos os comentários que o escritor e pesquisador espírita Hermínio C. Miranda faz em seu livro "O Evangelho gnóstico de Tomé", durante a qual observamos interessante discussão sobre a verdade e a validade desse conhecimento histórico, posto que Acely e Fernando se manifestaram de certo modo contrários aos aspectos especulativos da identidade de Judas Tadeu, que nos comentários de Hermínio se confunde com o apóstolo Tomé, aquele que duvidou da ressurreição de Jesus. Fernando, principalmente, fez longa exposição enfatizando a necessidade de extrairmos desses textos as lições práticas colaboradoras de nosso processo de renovação espiritual. Mas recordamos que nosso grupo não é apenas vivencial, mas também teórico, de modo que todo conhecimento adquirido deve ser aproveitado para o crescimento individual a partir do relacionamento com o outro.
Valquíria, Roberto e Railza igualmente se posicionaram favoravelmente ao componente valioso da História como forma de, conhecendo o passado, vivermos melhor o presente e construirmos as bases de um futuro mais feliz. Roberto, inclusive, assegurou que os Espíritos também realizam estudos, talvez não como procedemos aqui na Terra, e devemos corresponder ao estímulo que eles nos dão por inspiração ou intuição. Nesse sentido, Regina lembrou que tudo surge no mundo espiritual e nos chega por inspiração, inclusive no que respeita àqueles que compilaram os escritos sobre os ensinos de Jesus, que chegaram até nós como de autoria principalmente dos apóstolos. Por tudo isso, a Coordenação insistiu na leitura das informações trazidas por Hermínio Miranda, sob o argumento de que tudo colabora para o conhecimento da Verdade que liberta, recordando tanto o lembrete do Cristo a esse respeito quanto a advertência alvitrada por Paulo de Tarso, de que devemos conehcer tudo e reter o que é bom.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Um pouco de Tadeu

Judas Tadeu era primo de Jesus, pois era filho de Alfeu, também chamado de Cléofas, irmão de José. Ao que se sabe, seu pai era um daqueles discípulos de Emaús, a quem Jesus apareceu naquela tarde do dia da Ressurreição. Quanto à sua mãe, ela era uma das mulheres que se encontravam ao pé da Cruz de Jesus, junto com Maria Santíssima.
Judas Tadeu - aquele mesmo apóstolo que, na Última Ceia, pergunta a Jesus por que Ele havia se manifestado a eles e não ao mundo - demonstrou sempre um grande ardor pela causa do Reino e, então, o desejo de que o Evangelho se tornasse conhecido de todos. Era o chamado à missão, típico do cristão, daquele que ama a Cristo e guarda a sua Palavra. Ele o amava, e precisava garantir que todos o fizessem também, para que fosse possível se realizar aquela resposta que Jesus lhe havia dado naquela Ceia: "se alguém me ama guardará a minha palavra e meu pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada" (Jo 14,22).
Judas Tadeu morreu mártir, provavelmente no dia 28 de outubro de 70 D.C. (data em que se comemora o dia do Santo). Foi perseguido graças à coerência que mantinha entre a sua fé e a sua vida, e em função da força de sua pregação, coisas que impressionavam de tal forma os pagãos que estes se convertiam "em massa". Provocando a fúria de feiticeiros, ministros pagãos e falsos profetas, estes acabaram por incitar parte da população contra o santo, que morreu, possivelmente, trucidado a golpes de machado.

(Material, em excerto, recolhido do site http://www.ruadasflores.com/saints/sjtadeu/)

Um certo Tadeu, também Judas

Das duas, uma: ou vamos encontrar grandes desafios para a compreensão sobre quem foi o apóstolo Judas Tadeu a partir deste sábado, 16 de junho, ou faremos uma breve discussão acerca de sua presença junto a Jesus, tão escassas são as informações sobre ele. Mas se optarmos por estudar o subsídio oferecido por Hermínio C. Miranda em seu livro "O evangelho gnóstico de Tomé", dada a exiguidade do texto do EADE, nossas atividades vão render bastante, uma vez que esse escritor espírita realiza ali uma extensa pesquisa sobre os companheiros do Cristo, utilizando-se de várias fontes confiáveis. Basta dizer, por enquanto, que Judas Tadeu guarda um parentesco estreito com o Mestre e que ele, assim como Tomé, também em sua época, de acordo com alguns autores, era cognominado "Dídimo", termo que significa "gêmeo".

sábado, 9 de junho de 2012

O último beijo

Como um beijo pode ser tanto o início quanto o fim de uma história, a conversa deste sábado, focalizando a simbologia da "traição" de Judas através do beijo, encerrou as abordagens referentes aos dados biográficos desse apóstolo, em trabalho que contou com a participação de Carminha, Valquíria, Egnaldo, Waldelice, Magali, Railza, Fernanda, Fernando, Roberto, Lígia, Isabel, Jaciara, Ilca, Iva, Acely, Maria da Paixão e Regina, além dos coordenadores Francisco e Maria Luiza. Foi uma atividade muito mais vivencial que teórica ou especulativa, na qual procuramos entender se nossas manifestações afetivas são realmente sinceras ou traem alguns de nossos princípios e aspirações...
Iniciando os comentários, após a exposição da Coordenação, Railza comentou que ainda convivemos de maneira hipócrita, recordando o argumento psicológico das máscaras, devido às convenções sociais: beijamos e abraçamos alguém de quem não gostamos e há pessoas para quem somos indiferentes. A esse respeito, Valquíria acrescentou que os padrões de comportamento socialmente aceitos geralmente não envolvem sentimento... Seguindo a mesma trilha, Acely comentou estar lendo um livro sobre "crianças índigo", que fala de seres preparados para processar a transformação de nosso mundo, detentores da capacidade de ver além dos sentidos, percebendo assim a intenção dos outros. Em nós, disse ela, essa incapacidade é que dificulta o relacionamento: "Manifestamos o que nem sempre está dentro de nós", revelou, completando que falta-nos honestidade em relação ao que se pensa, ao que se quer e se faz.
Como a questão envolvia as práticas do passado, quando ainda não tínhamos o conhecimento atual proporcionado pelo Espiritismo, que nos facilita a compreensão e vivência do Evangelho, Roberto recordou que 30 anos atrás ele confundia amor e paixão e somente Allan Kardec o fez discernir a diferença entre um e outra, ao registrar, em O Livro dos Espíritos, que a paixão é como um cavalo selvagem, embora não deixe de ser amor. A experiência, disse ele, é que vai dando a justeza dos sentimentos, até o desgarramento, a renúncia pessoal.
Voltando ao tema em tela, Jaciara comentou um filme nacional ("Estômago"), que ela considerou "cru" pelo impacto emocional que causa, especificando uma cena na qual um homem se apaixona por uma prostituta mas esta se recusa a ser beijada na boca afirmando ser antiético beijar um cliente. Railza aproveitou a deixa para contar um episódio ocorrido há anos na porta da Cobem, para justificar o argumento de que traímos o que somos (ou o que aparentamos ser). Na ocasião, ela teve um entrevero com alguém quando estacionava seu carro e a tal pessoa atrapalhava a manobra querendo dinheiro; irritada, ela fez "contato com o obsessor" e escrachou a criatura, que em represália a chamou de "espiritinha". Mas ao adentrar a Casa ela voltou ao "normal" e até participou da reunião mediúnica. Somente ao retornar para casa é que foi fazer o exame da situação...
Iva ressaltou a consciência limitada antes de conhecer a Doutrina Espírita, quando então começou a agir mais responsavelmente, especialmente nas relações profissionais, aprendendo a se conter e ser mais moderada. Já Egnaldo observou que as reações instintivas dependem das situações criadas e recordou uma faceta do caráter de Judas relacionada no texto do EADE: a amorosidade desse apóstolo, o que levou nosso companheiro a dizer que sonhar é preciso. Aproveitando que Roberto voltara a falar da simbologia do heijo, Jaciara referiu-se aos beijos das crianças, que são espontâneos, sinceros e, por isso mesmo, reais, ao contrário do modo como os adultos se beijam socialmente... Carminha, por sua vez, considerou que nos traímos mutuamente e a nós próprios o tempo todo. de maneira que condenamos Judas hipocritamente. "Somos imediatistas e temos de reconhecer que também somos Judas", completou.




sexta-feira, 8 de junho de 2012

Judas socorrido por Jesus

O texto evangélico relata que Jesus apareceu materializado a Maria Madalena, após o terceiro dia de sua morte. O diálogo estabelecido entre Ele e Madalena neste acontecimento, está narrado em forma de poema pelo Espírito Maria Dolores, através da psicografia de Francisco Cândido Xavier, sob o título Amor e Perdão do livro "Coração e Vida"; o final desse diálogo, apresentado a seguir, revela o imenso amor de Jesus, que após sua morte, vai ao encontro de Judas, que se enforcou, ao constatar que o Mestre fora crucificado por culpa de sua insensata ambição política. 
(Palavras da médium e escritora espírita Ana Maria Spränger, copiadas de sua página no Facebook.)

“Senhor, onde estivestes?" Mas Jesus respondeu:
Não Maria, não fui ainda ao alto. 
Nem me elevei sequer um palmo à luz do firmamento.
Quem ama não consegue achar o céu de um salto. 
Ao invés de subir aos altos esplendores, 
desci, mas desci muito aos reinos inferiores.


Despertando no túmulo escutei os gritos de aflição 
de alguém que muito amei, e que muito amo ainda.
Embora visse além a luz sempre mais linda, 
sentia nesse alguém um amado companheiro, 
em crises de tristeza e de loucura.

Fui à sombra abismal para a grande procura.
E ao reencontrá-lo, amargurado e louco, 
a ponto de não mais me conhecer, 
demorei-me a afagá-lo, e pouco a pouco, 
consegui que ele enfim, pudesse adormecer.

"Senhor?" Interrogou Madalena. 
Quem é o amigo que te fez descer 
antes de procurar a Luz do Pai?
Mas Jesus replicou em voz clara e serena:
Maria, um amigo não esquece a dor 
de outro amigo que cai. 
Antes de me altear à celeste alegria, 
ao sol do mesmo amor a Deus em que te enlevas.
Vali-me após a cruz, das grandes horas mudas, 
e desci para as trevas, 
a fim de aliviar a imensa dor de Judas”.

***


Essa revelação, pela via mediúnica, esclarecendo onde esteve o Cristo nos três dias após sua morte, fato não registrado no Novo Testamento, demonstra sobretudo, a extensão da infinita misericórdia de Jesus, para todos os sofredores. (AMS)

Pai, perdoa-os, porque eles não sabem 
o que fazem!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Um beijo...


Sim, como se disse e se sabe, o beijo de Judas foi só o código, o sinal combinado com os doutores da lei, os poderosos do Templo de Jerusalém, para que os soldados identificassem, em plena noite, quem eles deveriam prender. Assim se configura a "traição" por Judas, a partir de um beijo, marcando para sempre a história da humanidade em razão de um martírio que terminaria (será?) no deslumbramento da ressurreição, mostrando a quem, até hoje, tem "olhos de ver" que a vida do espírito é um fato e a única realidade apreciável, o que faz com que necessitemos modificar radicalmente nossas impressões acerca de muitas ocorrências da vida física, a exemplo de um beijo. Será que a música de Chico César pode nos ajudar nessas reflexões, porquanto a letra da composição cita: "Um beijo seu e eu vou só pensar em você..."? Porque a verdade é que o ato de Judas de alguma maneira fez com até hoje se pense e se fale do Cristo... Eis o tópico em discussão neste sábado, no "Jesus de Nazaré".

domingo, 3 de junho de 2012

Uma palavrinha a mais sobre Judas




O evangelho segundo Judas

Por dois milênios, Judas foi apontado como o maior traidor de Jesus. Agora, documentos sugerem que ele pode ser sido o mais fiel de seus seguidores.






Essa é a última palavra sobre Judas Iscariotes: ele não traiu Jesus. Não é, necessariamente, a verdadeira. Nem a mais correta. Mas é a última versão da história mais polêmica do cristianismo. A revelação faz parte de um manuscrito redigido há cerca de 1,7 mil anos e que passou a maior parte desse tempo perdido em uma caverna no deserto egípcio. Escrito em copta, o idioma usado na redação de manuscritos no Egito antigo, o texto não deixa qualquer dúvida sobre os segredos que promete revelar. Na linha que abre a primeira das 13 folhas encontradas está grafado em destaque:Evangelho de Judas.
A tradução do manuscrito foi apresentada em abril, após 5 anos de trabalho. Autenticação, restauração e decodificação foram feitas pela Fundação Mecenas, da Suíça, e bancadas pela National Geographic Society. O resultado deixou historiadores e arqueólogos eufóricos. Afinal, descobertas como essa são raras e têm poucos precedentes – em termos de valor histórico, o evangelho pode ser comparado ao encontro dos Pergaminhos do Mar Morto, em 1947, que nos trouxe a mais antiga Bíbliaconhecida, ou dos Manuscritos de Nag Hammadi, em 1948, que revelou ao mundo a existência dos evangelhos apócrifos. Juntos, todos esses textos estão permitindo que pesquisadores reconstruam ahistória do nascimento da religião que mais tem fiéis no mundo. “Por 2 mil anos, acreditamos que as únicas fontes sobre a vida de Jesus eram os 4 evangelhos canônicos: Mateus, Marcos, Lucas e João. Mas, nos últimos 50 anos, vimos que eles são apenas um pequeno exemplo entre vários textos que foram escritos nos primeiros séculos após a crucificação”, diz Elaine Pagels, professora de religião na Universidade de Princeton.
Não que o Evangelho de Judas fosse exatamente um desconhecido. Estudiosos da religião já sabiam de sua existência por causa de uma carta escrita em 178 d.C. pelo então bispo de Lyon, santo Irineu – o homem que decidiu que apenas os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João entrariam na Bíblia. Em seu texto, Irineu citava nominalmente o Evangelho de Judas em meio a outros textos que o desagradavam pelo conteúdo “herético”.
manuscrito recém-traduzido afirma que o único apóstolo a entender todo o significado dos ensinamentos de Jesus foi Judas. Ele mesmo, o homem cujo boneco é espancado anualmente na Páscoa brasileira. Cujo uso do nome é proibido na Alemanha. O sinônimo definitivo de traição. E, goste ou não, a última chance de rever esse estigma sobre o apóstolo é o evangelho. “Desconhecemos a existência de qualquer outro documento que relate a vida de Judas”, afirma Stephen Emmel, professor de estudos coptas da Universidade de Münster, na Alemanha, e um dos primeiros estudiosos a entrar em contato com o manuscrito. Estamos, portanto, diante da última palavra sobre Judas Iscariotes.
Quem foi Judas?
Judas é um personagem sem história. Com exceção de 15 citações nos evangelhos canônicos e algumas outras no Atos dos Apóstolos, quase não há registros de seu passado antes de conhecer Jesus. Ao contrário de apóstolos como Pedro, que era pescador, ou do cobrador de impostos Mateus, a Bíblianão conta de onde ele veio ou como ganhava a vida. Um silêncio que não chega a surpreender. “Pouco se sabe sobre Judas porque os evangelhos não tinham compromisso com a história. Eram apenas textos para orientar os cristãos e passar os ensinamentos de Jesus”, diz Gabriele Cornelli, doutor em ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo. E a orientação oficial sempre foi clara: Judas era o vilão. E ponto final.
Ponto final para os fiéis, é claro. Para os pesquisadores, este é apenas o ponto de partida para dúvidas que nunca foram respondidas. Algumas delas: assim como os outros 11 apóstolos, Judas também teve um grupo de seguidores? Quem eram eles? Há algum legado seu para o cristianismo? Qual foi a relação dele com Jesus? Judas foi mesmo o vilão pintado pela Bíblia? As respostas, como boa parte da históriado nascimento do cristianismo, passam mais por hipóteses que por fatos comprovados. Acredita-se, por exemplo, que Judas era uma espécie de outsider entre os seguidores mais próximos de Jesus. Seu sobrenome, Iscariotes, provavelmente é uma indicação da cidade em que ele nasceu: Cariotes, ou Kerioth, ou algo bem próximo a isso – a vila nunca foi localizada com precisão. Sabe-se que o lugarejo ficava perto de Hebron, uma importante área urbana no sul da Judéia. Mas que estava a cerca de 5 dias de viagem da Galiléia, região que abrigava o coração da religião que nascia, onde viviam Jesus e seus outros 11 apóstolos (veja mapa no quadro acima).
E o que isso quer dizer? Que Judas pode ter sido uma figura bastante importante para Jesus. Caberia a ele levar as pregações aos habitantes da Judéia. E isso não era pouco. Vivendo no então principal centro político e econômico de onde hoje fica Israel, os habitantes da região acreditavam ser intelectualmente superiores aos moradores da Galiléia, considerados rústicos e atrasados, quase caipiras. O fato de Judas, um local, falar bem de Jesus pode ter ajudado a abrir as portas da região para o líder forasteiro. “A existência de um Evangelho de Judas leva a crer que ele teve seguidores e nos faz supor que ele tinha forte influência na Judéia”, diz Emmel.
Para entender como Judas podia ter uma “área de influência” é preciso conhecer a estrutura do grupo de seguidores que Jesus tinha ao seu redor. Eles estavam divididos em 3 círculos. No mais distante, ficavam os ouvintes. Eles estavam em todo o território judaico e não seguiam Jesus, mas eram simpáticos às suas pregações. No segundo grupo estavam os discípulos, cerca de 70 pessoas que seguiam o mestre, ouviam seus discursos, anunciavam sua chegada nas cidades, faziam algumas pregações em seu nome, mas não tinham compromisso com Jesus. Foi desse grupo que ele escolheu 12 homens a quem chamou de apóstolos (mensageiros, em grego). Eles formavam o terceiro grupo e eram os mais fiéis. Faziam parte desse núcleo central os irmãos Pedro e André, Tiago e João, Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, outro Tiago (que era primo de Jesus), Judas Tadeu, Simão e Judas Iscariotes. “Jesus e os apóstolos tinham uma relação de profundo respeito e amizade”, diz o historiador da religião João de Araújo.
Nesse grupo, alguns tinham papéis definidos. Segundo a Bíblia, cabia a Judas a administração do dinheiro recolhido durante as pregações – uma função que sugere a confiança de Jesus (mas que também pode nunca ter existido, sendo acrescentada apenas para reforçar sua afeição ao dinheiro). A verba arrecadada cobria o custo das viagens. “Jesus foi um líder itinerante”, diz Cornelli.
Na ausência do líder, seus seguidores trabalhavam individualmente na busca por fiéis. “Jesus tinha muita clareza do que estava fazendo. Ele organizou células no território judaico e compôs uma estrutura que deu sustentabilidade ao seu poder. Isso explica por que o cristianismo sobreviveu mesmo depois de sua morte”, afirma o historiador André Chevitarese, professor de história antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Assim, é muito provável que cada um dos apóstolos tivesse um grupo próprio de seguidores. Afinal, apesar de falarem em nome de Jesus, eram eles que entravam em contato direto com as pessoas comuns. Davam conselhos, pregavam, supostamente operavam milagres. E, obviamente, faziam isso a seu modo: quem ouvia Pedro tinha uma visão diferente da dos seguidores de João ou Tomé sobre os ensinamentos de Cristo.
Mais tarde, essas peregrinações individuais serviriam como a semente que germinaria diversos cristianismos diferentes nos séculos 1 e 2 d.C. – é isso mesmo que você leu, diversos cristianismos. Antes, porém, a nova religião precisaria assistir a seu episódio mais emblemático.
A traição
Judas, a Bíblia manda dizer, teve papel central na prisão de Jesus. Ele foi o alcagüete, o X-9, o ganso, o dedo-duro, enfim, o judas da história. Levou os soldados romanos ao jardim do Getsêmani, onde alguns apóstolos e seguidores estavam reunidos e, à frente dos guardas, deu o famoso beijo que identificou o líder do grupo. Resumindo, Judas traiu Jesus. Simples assim. Essa é a história conhecida por todos. Ou pelo menos era, até os pesquisadores da Fundação Mecenas traduzirem o Evangelho de Judas.
Em 26 páginas, o documento narra os episódios ocorridos durante a semana que antecede a Páscoa judaica no ano de 33 d.C. (os dias imediatamente anteriores à prisão de Jesus) e mostra uma versão completamente diferente da que tínhamos acesso até hoje. No relato, Judas é descrito como o discípulo mais próximo de Jesus, o único capaz de compreender a essência de seus ensinamentos. A profundidade da relação entre os dois aparece, por exemplo, numa passagem em que Cristo desafia os apóstolos ao zombar do comportamento deles. Rindo, acusa-os de não rezar por vontade própria, mas apenas por acreditarem que assim agradariam a Deus. Enquanto os apóstolos, ofendidos com a bronca levada, “começaram a blasfemar contra Jesus em seus corações” (nas palavras do evangelho), Judas mostra ser o único a entender as palavras do líder. Impressionado, Jesus o chama em particular para dizer: “Se afaste dos outros e eu lhe contarei os mistérios do Reino. Você pode entendê-los, mas vai sofrer por isso”.
E quais foram os segredos revelados? Nos manuscritos, Jesus fala sobre um mundo superior, habitado pelo verdadeiro Deus, um espírito bom “que nunca foi chamado de nenhum nome” e que deu origem a uma linhagem de anjos de onde saiu o criador da Terra. Adorado pelos judeus e citado no Antigo Testamento, este seria um Deus inferior, cuja criação aprisiona o espírito do homem. Para nos salvar e encontrar o Deus bom, precisaríamos buscar nossa porção divina interior e nos libertar desse mundo.
Por fim, Jesus revela que Judas será superior a todos os homens porque ”sacrificará o homem que me veste”. E revela a missão do discípulo: matar a parte física para livrar o mestre de seu corpo, ou seja, do reino inferior que aprisionava o espírito divino de Jesus. Judas cumpre à risca as ordens: imediatamente procura os sacerdotes para denunciar o líder. Pelo serviço, embolsou algum dinheiro – o valor não é especificado. Nesse momento, o evangelho acaba, abruptamente.
A idéia de que Cristo não só sabia de sua morte como permitiu que ela acontecesse não é exatamente uma novidade. Nos textos bíblicos, Jesus avisa pelo menos 3 vezes a seus seguidores que será morto. Aponta, inclusive, a traição por um de seus discípulos. O que o Evangelho de Judas acrescenta a essahistória é que Jesus teve um cúmplice para ajudá-lo a cumprir seu destino. “Nesse texto, Judas não é o seguidor mau que trai seu mestre. Ele é o amigo mais próximo, o que o compreendia melhor, que o entregou para as autoridades porque assim Jesus queria”, afirma o historiador Bart Ehrman, professor do Departamento de Estudos Religiosos da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, e integrante da equipe que traduziu o evangelho.
Apresentar Judas como alguém que agiu a serviço de Jesus é uma história bastante diferente das contadas em todas as fontes disponíveis – os evangelhos canônicos, o Atos dos Apóstolos e os textos apócrifos. Mas, antes mesmo da descoberta do novo evangelho, outros textos já passavam longe de pintar Judas como grande vilão da história, ou então como uma pessoa gananciosa e demoníaca. O Evangelho de Marcos, escrito por volta de 65 d.C. e considerado pelos historiadores o mais velho entre os 4 canônicos, cita Judas nominalmente apenas 3 vezes, afirma ser ele o responsável pela traição mas diz que a recompensa em dinheiro foi oferecida pelos sacerdotes.
A partir daí, a imagem de Judas na Bíblia vai se tornando progressivamente má. Mateus, escrito por volta do ano 80 e o segundo mais antigo, atribui a traição à ganância de Judas, dizendo que teria denunciado Jesus em troca das famosas 30 moedas de prata – o preço de um escravo na época. Mas relata seu remorso ao ver que Cristo foi condenado e conta que Judas reconheceu que tinha entregado um justo, devolvendo as moedas e depois se enforcando. Lucas, o seguinte na lista, diz que “Satanás entrou em Judas” e, por isso, ele traiu Cristo. O texto de João, que teria sido escrito no início do século 2, diz que, além de possuído pelo demônio, Judas também era ganancioso e ladrão.
Em textos apócrifos, outras hipóteses são levantadas. Uma delas diz que os primeiros cristãos esperavam que Jesus lutasse com armas contra Roma. Decepcionado com a covardia do mestre, Judas o teria entregado. Outra versão diz que, ao delatar Jesus, Judas pretendia precipitar uma revolta no povo de Jerusalém, que libertaria seu líder e o colocaria no trono. Uma espécie de golpe à Jânio Quadros – só que, enquanto Jânio foi para casa, o erro estratégico de Judas levou seu líder à cruz. Para Craig Evens, estudioso de assuntos bíblicos do Acadia Divinity College, no Canadá, tantas versões distintas sobre o mesmo tema revelam muito sobre a Bíblia. “Um dos evangelhos afirma que Judas agiu por dinheiro, outro não cita motivações, dois falam em ação demoníaca. Creio que essas versões tão distintas deixam claro que os escritores do Novo Testamento não sabiam exatamente quem era Judas Iscariotes.”
Primeiros cristãos
Depois que foi crucificado, a Bíblia conta, Jesus ressuscitou e ordenou aos apóstolos propagar a fé emDeus por toda parte. Se a ressurreição aconteceu ou não é questão de crença religiosa. Mas que os seguidores de Cristo se espalharam pelo mundo, não há dúvida – até porque a perseguição dos sacerdotes judeus fazia de Jerusalém um território para lá de perigoso. Judas Tadeu e Simão seguiram para a Pérsia. João percorreu a Turquia e se instalou em Éfeso, um dos primeiros centros docristianismo. Pedro viajou para Roma (veja por onde passaram outros apóstolos no mapa da página 63).
Se enquanto Jesus estava vivo cada discípulo já contava a história ao seu modo, depois da crucificação as versões se multiplicaram. Quando os apóstolos morreram sem deixar instruções por escrito, então, já não havia como esclarecer dúvidas. Circulavam centenas de versões para os mesmos fatos. Cristo era divino ou não? Divino por inteiro ou só parcialmente? Quem, afinal de contas, eraDeus? Como existia mais de uma resposta para a mesma pergunta, em poucos anos o tronco original docristianismo – as idéias e relatos de Jesus – se ramificou em diversos galhos. Os ebonitas, por exemplo, pregavam obediência às leis do judaísmo. Os marcionistas diziam que o deus judaico não era o Deusdo Novo Testamento. Fala-se que os carpocracianos faziam troca de casais (tudo bem santo e em nome de Deus, é claro). Resultado: na metade do século 1, apenas 20 anos após a morte de Jesus, ocristianismo era formado por diversas correntes, muitas contraditórias entre si. E tinha, pelo menos, 3 dezenas de evangelhos diferentes – os textos que narram a passagem de Cristo pela Terra. Destes, apenas os de Marcos, Mateus, Lucas e João acabaram reconhecidos pela doutrina da Igreja. Os demais, acusados de propagar heresias, jamais foram acolhidos pelas autoridades católicas. Os textos excluídos eram atribuídos a Maria Madalena, Judas, Tomé, Pedro e, agora se sabe, até a Judas. “A maior importância na descoberta desse novo manuscrito é comprovar a existência de uma diversidade de opiniões no cristianismo primitivo”, diz Marvin Meyer, especialista em Bíblia da Universidade Chapman, nos EUA, e coordenador da tradução do Evangelho de Judas.
Como é consenso entre historiadores que os evangelhos não foram escritos pelos discípulos de Jesus que levam seus nomes, mas por seguidores deles, resta a dúvida: quem, afinal, era o tal fã do bad boy da história? “É muito difícil identificar o autor do texto. O máximo que podemos é saber o perfil dele: um cristão simpático ao lado místico da religião”, diz Meyer. E quando fala em “lado místico da religião”, Meyer dá a senha para resolver o mistério. Para ele, o Evangelho de Judas foi redigido em alguma comunidade gnóstica, um desses galhos do cristianismo primitivo. A suposição pode ser confirmada por documentos históricos. Afinal, o próprio Irineu, perto de 180 d.C., identificou os autores do evangelho como gnósticos. Ao contrário do que muitos afirmam, esse não eram um ramo dissidente do cristianismo. Pelo contrário: gnósticos eram bastante influentes nos primeiros séculos após a crucificação, pregando que o homem conseguiria a salvação se conhecesse Deus – gnosis, em grego, significa conhecimento. Lembra-se do motivo pelo qual Jesus disse a Judas que precisava morrer? É exatamente disso que estamos falando.
Gnósticos acreditavam que os homens se libertariam da prisão do corpo quando conhecessem a parcela divina que tinham dentro de si. “Eles diziam que o mundo foi criado por um outro Deus, mau, e que o corpo material era uma prisão do espírito”, afirma o frei franciscano Jacir Freitas de Faria, professor do Instituto São Tomás de Aquino, em Belo Horizonte, e um dos principais estudiosos dos gnósticos no Brasil. Não é à toa, portanto, que o Evangelho de Judas é considerado pelos pesquisadores como fortemente influenciado pelo pensamento gnóstico. “Esse evangelho mostra um modo completamente diferente de entender Deus, o mundo, Cristo, a salvação e a existência humana”, completa. Esse modo reflete o pensamento dos gnósticos.
A dúvida que fica é como um grupo de gnósticos concluiu que o suposto vilão é o verdadeiro mocinho da história. Na Bíblia, há duas versões para o destino de Judas. O Evangelho de Mateus conta que, tomado de remorso, ele devolveu as 30 moedas que havia recebido pela traição e se enforcou. Mas, segundo o Atos dos Apóstolos, Judas comprou um terreno com o dinheiro e, “tombando para a frente, arrebentou-se pelo meio, e todas as entranhas se derramaram”. “As versões da morte de Judas narradas na Bíblia são inconciliáveis, mas são os únicos relatos que temos”, afirma Chevitarese.
Mas, se Judas foi culpado pela traição e morreu tão cedo, como reuniu seguidores para escreverem seu evangelho? O professor Stephen Emmel formula duas hipóteses: ou Judas teve tempo de contar suas conversas com Cristo antes de se matar; ou não morreu tão cedo. “Quem escreveu o texto de Judas pensava que ele era um discípulo muito importante”, diz. “Acreditava que alguns ensinamentos especiais foram transmitidos por Cristo a Judas. E apenas a ele.”
história oficial
No 1º século do cristianismo, o excesso de versões para as palavras de Jesus não era um problema. Mas, em 178 d.C., o bispo Irineu, de Lyon, resolveu unificar a Igreja. Queria fortalecer o cristianismoe controlar melhor os fiéis. Determinou, então, que apenas 4 evangelhos contavam a históriaverdadeira do filho de Deus e, portanto, deveriam ser os únicos seguidos pelos cristãos. O de Judas foi descartado.
Os critérios que orientaram a escolha de Irineu foram subjetivos. O primeiro, dizem historiadores, foi a facilidade de compreensão, já que os textos precisariam ser lidos em voz alta para os fiéis – afinal, a maioria era analfabeta. O segundo ponto era a idade: os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João estavam entre os mais antigos, escritos entre 65 e 95 d.C. O terceiro argumento foi o número 4, considerado especial por Irineu – porque havia “4 ventos e 4 direções (norte, sul, leste e oeste)”, como escreveu o próprio bispo. E, por óbvia conclusão, 4 evangelhos. Deu para entender a lógica?
É claro, a história relatada no evangelho também foi levada em conta. Irineu representava ocristianismo ocidental, ligado aos legados do apóstolo Pedro, que pregou em Roma. Ele não aceitava – na verdade, rejeitava – os pensamentos gnósticos. “Os gnósticos diziam que a salvação vinha pelo autoconhecimento. Assim, acreditavam que não precisavam freqüentar cultos e igrejas ou ter um padre como intermediário. Também afirmavam que a morte de Cristo na cruz serviu para libertá-lo da prisão que era seu corpo, mas seu sofrimento não poderia salvar os homens que aderissem à Igreja Católica”, diz Jacir de Faria. Na prática, a pregação gnóstica não era nada interessante para um bispo que tinha como objetivo fortalecer a Igreja. Evangelhos como o de Judas, Tomé e até o de Pedro receberam o carimbo de heréticos.
“Os líderes da Igreja queriam que o Novo Testamento fosse uma guia do que os fiéis deveriam aprender. Por isso, os 4 evangelhos oficiais são livros óbvios, claros. Os textos proibidos, não. Eles são místicos, inesperados, paradoxais, mais próximos à cabala judaica. São para iniciados que querem se aprofundar na fé”, diz Elaine Pagels.
Ao fazer suas escolhas, Irineu selou o destino de Judas. Um exemplo: por que Pedro, que negou Cristo 3 vezes, jamais teve sua virtude colocada em dúvida e não entrou para a história como traidor? “Pedro, chefe da Igreja em Roma, tinha de ser o herói. A Igreja elegeu Judas como vilão já que um dos 12 deveria trair”, diz o historiador Chevitarese.
“Judas serve como exemplo para amedrontar os cristãos que não seguirem o Evangelho”, comenta Jacir. “O cristianismo precisa desses arquétipos. Destruí-los é mexer nas bases que o sustentam.” Foi mais seguro para Irineu, portanto, ficar com os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João, que seguiam linhas parecidas e não feriam os princípios de que Pedro era o apóstolo mais próximo de Cristo e Judas, o traidor. (Para quem ficou curioso ao perceber que Marcos e Lucas não integravam a lista original de apóstolos, o esclarecimento: Marcos era sobrinho de Pedro. Lucas, amigo de Paulo, que se tornou apóstolo após a crucificação, segundo ele, “por vontade de Deus”.)
Não chega a ser surpresa, portanto, que a Igreja tenha recebido com frieza a descoberta dos manuscritos. Ainda que pesquisadores como Marvin Meyer, coordenador dos trabalhos de tradução, defendam uma “reavaliação da figura histórica de Judas Iscariotes”, o Vaticano veio a público negar a benção ao novo evangelho. Walter Brandmuller, presidente do Comitê para Ciência Histórica do Vaticano, chamou o texto de “produto de fantasia religiosa”. E, na primeira missa após a divulgação do evangelho, o próprio papa Bento 16 fez questão de apresentar sua opinião sobre o tema. Não aliviou nas palavras. “O que deixa o homem imundo? A rejeição ao amor, o não querer ser amado e o não amar. É a soberba de acreditar que não precisa de purificação, a rejeição da vontade salvadora deDeus. Em Judas, vemos a natureza dessa negação com mais clareza. Ele valorizou Jesus segundo os critérios do poder e do sucesso”, disse.
“A Igreja nunca vai aceitar a versão que absolve Judas da traição. Na visão dela, o pecado de Judas existiu e se deve ao mau uso de sua liberdade. Afinal, ele tinha livre-arbítrio para escolher não entregar Cristo. Não foi um ato inevitável, nem um fatalismo”, diz o historiador da religião João de Araújo. O frei Jair de Faria concorda. “Judas somos todos nós quando traímos o projeto do Evangelho. O recado é claro: na dúvida, melhor não trair.” Judas que o diga.
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(Matéria publicada pela revista Superinteressante na edição de maio de 2006 - texto copiado do site da revista: http://super.abril.com.br/religiao/evangelho-judas-446400.shtml, onde há mais comentários.)

Um "filho de mulher"

Foi assim de iniciamos a conversa desse sábado, 2 de junho, no "Jesus de Nazaré", abordando o significado gnóstico das expressões "Filho do Homem" e "filho de mulher" presentes no Evangelho, a primeira como título que Jesus se dá para exprimir sua condição espiritual, de plena identificação com a natureza divina ("Eu e o Pai somos um!"); a segunda, também utilizada pelo Cristo, para explicar a condição evolutiva de João Batista, que, pelas atitudes de sua vida pregressa como o profeta Elias, ainda esta preso às necessidades reencarnatórias; no entanto, pelo alcance do papel desempenhado como precursor do Cristo, Jesus afirmara que, dos nascidos de mulher, ou seja, aqueles ainda marcados pelas limitações da matéria, João era o maior, ao passo que, no Reino dos Céus, isto é, entre aqueles já espiritualizados, o menor era maior que João. Judas, portanto, motivo dos estudos atuais, era também um "filho de mulher" com dificuldade para compreender a extensão da missão do "Filho do Homem", o Cristo Jesus.
A atividade foi bastante concorrida, ainda que sentíssemos a ausência do casal Fernando Mascarenhas e Maria Luiza, ele recuperando-se de recente cirurgia; compareceram Railza, Acely, Jaciara, a família de Egnaldo - ele próprio mais Valquíria e Egnaldo Jr. -, Carminha, Lígia, Regina, Waldelice e Magali (mãe e filha), Maria da Paixão, Iva, Isabel, Marilda, Marilene, Fernanda e Roberto, além do coordenador Francisco. Também contamos com a participação de Carlos Leal, assistido do Grupo de Apoio e Manutenção (GAM) que visitava o "Jesus de Nazaré", a convite.
A provocação para o trabalho partiu da constatação de que somos ainda e também "filhos de mulher" com a necessidade de mudar de condição. Com isso recebemos de Acely o questionamento acerca do dito segundo o qual temos em nós mesmos o que nos incomoda no outro, levando-nos a concluir, após muitas opiniões, quanto às dificuldades encontradas para o bom interrelacionamento, em razão das sutilezas da linguagem nas tentativas de comunicação. Falou-se ainda dos propósitos de Judas como o único judeu no colégio apostolar, desse modo fiel a suas origens, embora o amor pelo Cristo, de maneira que a "traição" só existiu aos nossos olhos, conforme ponderou Railza, afirmando que também nos traímos o tempo todo, porquanto utilizamos máscaras diferentes em função dos papéis desempenhados na sociedade.
Principalmente, consideramos nossa capacidade de continuar traindo e não aceitarmos esse comportamento nos outros. Assim, arguimos a sempre necessária transformação de hábitos, conceitos e aprendizado, através da assimilação da proposta revolucionária de Jesus, ainda incompreendida pelo Homem, pelos "filhos de mulher". Essa revolução tem o propósito de nos fazer transcender a condição atual, obrigando-nos a nós próprios, como o Cristo ensinou, a deixar tudo (renúncia de si mesmo) para bem empreendermos a viagem ao plano da luz. Nesse momento, distribuímos entre os participantes cópias da história que o Espírito José Grosso contou (pela psicografia de Chico Xavier) a respeito de Judas, trazida por Roberto. Em linhas gerais, essa história fala de um sacerdote católico que em seus sermões gostava de criticar o comportamento de Judas; um dia, esmerava-se para comentar mais uma vez sobre o tema da traição quando, pouco antes da missa, sentiu-se mal e pediu ajuda a seu anjo da guarda, para não faltar ao compromisso; então seu anjo lhe aparece e o conduz ao altar para a celebração; ao final, de volta a seus aposentos, o padre agradece o empenho de seu anjo da guarda e pergunta-lhe quem é; o espírito amigo, então, diz-lhe com humildade que é Judas, o traidor...