domingo, 26 de agosto de 2012

Última conversa com Pedro

"Era domingo, primeiro dia da semana entre os judeus e muitos doentes haviam sido trazidos a Pedro para suas sessões de cura espiritual, às quais ele se dedicava com todo o generoso impulso de seu coração. Um homem destacou-se da multidão para um impertinente desafio. Pedro restituía a visão aos cegos, a audição aos surdos, o movimento aos paralíticos e a força aos fracos; como e por que não curava sua própria filha, uma bela moça, crente em Deus, que ali estava a um canto, imobilizada?
Pedro sorriu e comentou: "Meu filho, só Deus sabe por que o corpo dela não é sadio. Saiba você que Deus não foi fraco ou incapaz de conceder essa graça à minha filha. Mas para que sua alma se persuada e aqueles que aqui se encontram possam ter mais fé".
Em seguida, voltou-se para a jovem e a ordenou que se levantasse de onde estava, "sem nenhuma outra ajuda, senão a de Jesus", e caminhasse até ele. Foi o que aconteceu. A moça ergueu-se e andou sozinha até o pai. A multidão explodiu de alegria e admiração.
Inesperadamente, contudo, Pedro voltou a falar com a moça, ordenando-a a retomar seu lugar e tornar-se novamente uma inválida, o que também ocorreu conforme ele determinou. E explicou: Isto é bom para você e para mim.
Mas como poderia um sofrimento saqueles ser benéfico a alguém e ainda mais, uma dor que poderia ser removida, como ficou demonstrado? Novamente Pedro explicou a razão de sua estranha atitude ao condenar a própria filha à invalidez, após ter demonstrado ter poderes para curá-la: "No dia em que ela nasceu, tive uma visão e o Senhor me disse: - Pedro, nasceu para você hoje uma grande provação. Esta filha faria muitas almas sofrerem se o seu corpo permanecesse saudável."
O pescador achou que a visão zombava dele. Como é que uma pessoa saudável poderia causar a infelicidade de tantos e uma aleijada não?
Havia, porém, outra história atrás da história. (...) À medida que a menina crescia, crescia também sua beleza e muitos foram os que se interessavam em casar-se com ela, como um sujeito rico por nome Ptolomeu, que a entrevira quando tomava banho, aos dez anos de idade e pediu insistentemente que a menina lhe fosse dada em casamento, na época própria.
(...)
Parece que, afinal, Ptolomeu conseguiu obter a permissão para casar com ela... Mas a menina é trazida de volta à casa de seus pais. Informado a respeito, Pedro e a esposa vêm ver a filha e a encontram paralisada 'dos dedos à cabeça' e ressequida.
Não se sabe o que aconteceu, sabe-se apenas que Ptolomeu ficou arrasado e cego de tanto chorar. Dispunha-se a matar-se no seu quarto, quando viu intensa luz que iluminava toda a casa e uma voz que lhe dizia que Deus não cria as pessoas "para a corrupção e a poluição". Fora necessário que ele, Ptolomeu, não tivesse nenhum relacionamento com a jovem, na qual deveria "reconhecer uma irmã". Que ele fosse a Pedro, que lhe explicaria melhor as coisas.
Assim ele fez e lá, em casa do pescador, teve nova visão do Cristo que ele percebia "com os olhos da carne e os olhos da alma".

***

Essa narrativa, constante do livro "O evangelho gnóstico de Tomé", do escritor espírita Hermínio C. Miranda (ed. 3 de Outubro), constituiu o ponto de partida para os diálogos realizados do sábado, 25 de agosto, no âmbito do Grupo de Estudo Jesus de Nazaré em torno da ação benemérita observada em Pedro e que podemos realizar por nossa vez. As atividades contaram com a participação de Bia, que aniversariava e por isso mereceu homenagens no final, Fernanda, Roberto, Carminha, Regina, Lígia, Isabel, Marilene, Waldelice, Quito, Fernando, Valquíria e Edward (Junior), além dos coordenadores Maria Luiza e Francisco.

Após a leitura do texto acima, antecedida da observação do EADE sobre o apóstolo em questão, iniciamos a conversa recordando que Pedro soubera, depois que Jesus ressuscitado efetivamente ascende aos Céus, demonstrar seu amor pelo Mestre realizando na Terra tudo que o Cristo ensinara e exemplificara. Sua invigilância transformou-se, então, em disposição para o trabalho do Senhor. Simão, portanto, não só ensinou como curou e até reanimou outros corpos tidos por mortos, como o da viúva Dorcas, conforme relatam os Atos dos Apóstolos. Haveria, assim, um critério para se corresponder à recomendação de Jesus para se dar aplicação à faculdade mediúnica de que cada pessoa é detentora, de acordo com Allan Kardec e esse critério está na observância estrita do mandamento "amar ao próximo como a si mesmo", que se exercita pela pureza de coração.
Franqueada a palavra, Valquíria referiu-se à cobrança dos incrédulos, como no relato do livro de Hermínio Miranda, revelando que as pessoas se manifestam pelo imediatismo, cuidando somente do corpo e com isto mostrando que não querem melhorar. Desse modo, disse, o trabalho de renovação pelo estudo passa despercebido, comentando importante seminário recentemente realizado na Cobem. Fernando recordou o caso da angina que acometeu o médium Chico Xavier, para cuja cura o também médium mineiro Zé Arigó, famoso nos anos 70 pelas cirurgias espirituais que realizava, sob a ação do médico Dr. Fritz, recebendo a negativa de Chico. Segundo Fernando, suportar, pedir socorro e aceitar a ajuda é o que devemos fazer para correspondermos aos exemplos deixados por Jesus e Pedro. Nosso companheiro também lembrou-nos os exemplos do benfeitor Bezerra de Menezes, cuja ação benemérita em favor dos desassistidos comprometia a própria família consanguínea, e de Irmã Dulce, a qual continuou trabalhando pelos necessitados mesmo tendo o corpo físico alquebrado...
Isabel, por sua vez, retomou o exemplo de Bezerra de Menezes e falou do seminário anteriormente citado por Valquíria, afirmando ter sido uma continuação dos estudos do Grupo Jesus de Nazaré feitos naquele sábado, 18 de agosto. O teor do seminário, disse ela foi importante para a compreensão e mais aplicação em seu trabalho no "Encontro com Jesus", uma das etapas do tratamento espiritual na Cobem. "Aprendi muitas coisas naquele dia", disse ela, ressaltando o aprofundamento de temas pelo expositor, utilizando-se de informações científicas. Fernanda aproveitou para fazer uma avaliação do trabalho que realiza na Cobem, como coordenadora de uma turma do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita (ESDE), a partir de uma conversa que teve com um integrante dessa mesma turma. Segundo ela, ainda que não se sinta capacitada, aceita os desafios, por perceber que as tarefas são estímulos ao aprimoramento.
Carminha, referindo-se à atuação mediúnica ou mesmo magnética de Pedro, recordou-se da experiência que teve quando participou de um curso de passes na Cobem, ocasião em que experimentou "sensação de vergonha", pelo descontrole observado na gesticulação, numa época em que os passes eram ministrados com os olhos fechados; ao abri-los, ela se surpreendeu ao ver suas mãos direcionadas para o plexo cardíaco da "paciente", que declararia depois ter uma necessidade específica na área do coração. Essa lembrança permitiu a Carminha considerar até mesmo sua própria condição de saúde - uma pertinaz insuficiência cardíaca -, fazendo-a ver que precisa do trabalho espiritual, por conta de certas recordações de seu passado reencarnatório...
 "Tento me transformar em pipoca", disse Regina, ao final de sua fala, revelando estar sentindo mudanças muito significativas em sua vida: um certo incômodo que não chega a ser dor, mas provoca ansiedade que dá lugar a reflexões. Por exemplo, ela vê desabrochar um sentimento de caridade muito intenso, ao mesmo tempo que em coisas novas vêm acontecendo. "Somos Cristos", revelou, ponderando, no entanto, que se acha "aquém de Jesus". Ainda assim, sente-se feliz tentando essa nova proposta, vendo o próximo de uma forma mais proveitosa, apesar de suas limitações. Já Marilene vê dificuldade em viver os exemplos de Jesus e Pedro, mas, segundo disse, não quer se perder: "Minha meta é ter o Cristo como modelo". Assegurando que o que as pessoas querem é a solução dos problemas, ela considera estar distante dos exemplos de abnegação, como os citados. A companheira também relatou um episódio de sua vida pessoal, de quando teve que fazer uma cirurgia para correção de uma catarata e após o que passou a ver melhor a distância. Se tudo melhora um dia, "só não posso perder o foco, porque a gente chega lá", completou.
Por sua vez, Edward Jr. ainda vê-se, como relatou, muito ignorante perante Pedro e Jesus, na tentativa de viver tais exemplos, esforçando-se para conviver com o próximo nas diferentes circunstâncias da vida de relação. Fechando a partilha, Roberto comentou uma mensagem espiritual lida alhures, a qual dava conta de que um certo médium experimentava certos tormentos corporais/orgânicos; sentindo-se mal, pediu ajuda a seu Mentor, julgando precisar de estímulo para as atividades sob sua responsabilidade; o Mentor, em resposta, perguntou-lhe que carro compraria se tivesse apenas três mil reais; "Um fusca", o médium respondeu, ao que o Mentor acrescentou, aludindo ao corpo do médium: "Pois foi o que você comprou. Vá trabalhar!"
Pouco antes da realização da prece final, as filhas e os netos de Bia e do coordenador Francisco adentraram o Salão B da Cobem, onde são realizados os encontros do "Jesus de Nazaré", e o momento de oração foi também de festa...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

E aí, deixe um recadinho!