sábado, 27 de junho de 2015

A prisão das posses

A chuva forte que se abateu sobre Salvador desde a noite da sexta-feira e continuou até o meio da manhã deste sábado impediu a participação maciça dos integrantes do "Jesus de Nazaré" na atividade realizada pela Coordenação. Para abrilhantar o trabalho, compareceram, além deste escriba, Carminha, Nilza, Marlene, Creuza, Valquíria, Waldelice e Marilda. Assim, sob as bênçãos líquidas que nos desciam do Céu, procedemos à leitura do texto de Joanna de Ângelis no sétimo capítulo de Momentos de Saúde e de Consciência ("Posses"), no qual a autora espiritual, servindo-se da mediunidade psicográfica de Divaldo Franco, chama nossa atenção para o perigo do apego aos bens materiais, afirmando que quem vive assim está "encarcerado na insatisfação". Segundo Joanna, se soubermos ser desprendidos viveremos tranquilamente e disporemos de tudo quanto é necessário, sem o tormento dispensável do supérfluo.
Carminha iniciou os comentários, afirmando estar ainda longe de dispensar o supérfluo e apegada ao dinheiro, embora reconheça que o pouco que ganha lhe seja suficiente; mais tarde ela diria que a manifestação do apego independe de que sejamos ricos ou pobres. A Coordenação recordou o ensinamento do filósofo Huberto Rohden, para quem "não se pode gozar o mundo de Deus sem o Deus do mundo", acrescentando que todo quanto julgamos nosso nos é dado por empréstimo e disso um dia prestaremos conta. Creuza propôs uma reflexão, perguntando quais são, do ponto de vista espiritual, nossas verdadeiras posses. Então Waldelice falou de sua honestidade, Valquíria revelou outra virtude e a Coordenação, interferindo, informou que um de nossos principais tesouros da alma é o conhecimento - e questionou: o que fazemos com ele?
Após Carminha contar a história de um homem fortemente apegado a suas riquezas, ao ponto de ser apontado como um avarento, a Coordenação ponderou que a questão do apego não se prende unicamente às coisas, mas também e talvez principalmente ao corpo que nos abriga momentaneamente. Nesse aspecto, Creuza ressaltou a condição do corpo como instrumento do Espírito na realização de suas tarefas no plano material; "mas não se deve esquecer", disse ela, "que devemos cuidar da manutenção do corpo", que deve ser muito bem cuidado, do mesmo modo como somos chamados a ser bons administradores dos recursos dispensados pela Divindade para nosso crescimento espiritual.
Finda essa parte, foi feita a leitura do item 13 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, completando o arrazoado de Allan Kardec sobre os "Motivos de resignação", no qual o Codificador salienta ser preciso ver os acontecimentos da vida terrestre do ponto de vista da vida espiritual: "O resultado dessa maneira de encarar a vida é diminuir a importância das coisas deste mundo, de levar o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com sua posição sem invejar a dos outros, de atenuar a impressão moral dos reveses e das decepções que experimenta", diz Kardec, dentre outras coisas.
A propósito, Waldelice revelou que às vezes chora ante as aflições, "mas depois entendo que devo me resignar e peço perdão a Deus". Creuza observou que pior é quando cometemos nossos erros e utilizamos desculpas: a carne é fraca, eu sou humano, etc. Marlene considerou que falar a verdade - e vivê-la - permite-nos viver bem, no caminho do equilíbrio. E Valquíria, por fim, declarou sua dificuldade em vivenciar a resignação em família...

quinta-feira, 25 de junho de 2015

"É meu, é meu, é meu..."

Quem é afeiçoado à música dos anos 60/70 deve se recordar que as palavras que dão título a esta postagem são o refrão de certa composição da dupla Roberto e Erasmo Carlos, vindo bem a calhar para as reflexões deste sábado, 27 de junho, quando vamos abordar o sétimo capítulo do livro Momentos de Saúde e de Consciência, que trata das "Posses", no qual a Benfeitora Joanna de Ângelis pondera a respeito de nosso forte apego aos bens materiais. Paralelamente, cuidaremos de interpretar um pouco mais profundamente o item 13 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, ainda enfocando os "Motivos de resignação". Será uma oportunidade para avaliarmos principalmente o medo de perdermos o que julgamos ser nosso: o corpo, cônjuges, cargos, filhos, coisas, família...

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A tríade da resignação

Nesse sábado, 20 de junho, cantamos, no final da atividade conduzida pela Coordenação, os parabéns para Iva, que festejava idade nova, mas só no final, porque antes tivemos que trabalhar, abordando o capítulo 6 de Momentos de Saúde e de Consciência (Joanna de Ângelis - Divaldo Franco) e o item 12 do cap. V de O Evangelho Segundo o Espiritismo (Allan Kardec), sobre os "Motivos de resignação". A essa atividade compareceram Isabel, a supracitada Iva, Marlene, Carminha, Waldelice, Magali, Luiza, Marilene, Marilda, Fernando, Eliene, Cristiano, Regina Mendes e este escriba.
Para começo, procedemos à leitura do texto joanino, intitulado "Amor acima de tudo", no qual a Benfeitora Espiritual tece considerações a respeito da "tríade sublime" apontada por Jesus: amar a Deus sobre todas as coisas; amar ao próximo; e amar a si mesmo - essa prática, segundo Joanna de Ângelis, leva-nos à plenitude da vida, porquanto é uma síntese perfeita que responde pela solução de todos os problemas que o Homem enfrenta na Terra.
Abertos os comentários, Carminha assegurou que "não nos amamos, somos egoísmo puro", razão pela qual também não amamos a Deus nem ao próximo; para ela, "o desafio é me amar sem egoísmo, para amar a Deus e ao próximo; enquanto não fizermos isso, os pensamentos ficam em descontrole e o corpo sofre, provocando maior comprometimento"; de acordo com a companheira, somente a conscientização desse amor não basta. A esse respeito, a Coordenação lembrou a passagem evangélica referente ao moço rico, que sabia dos mandamentos desde cedo mas ainda se dispunha a vender tudo que tinha, como lhe sugerira o Cristo.
Isabel, por sua vez, comentou que veio ao Grupo refletindo sobre o que lhe acontece no trabalho profissional, "aconselhando a mim mesma a agir de outra forma, para não me aborrecer nem ficar com mágoa de ninguém"; segundo ela, não devemos reclamar, mas agradecer a Deus, uma vez que nada é mau, "são coisas que nós atraímos, é um aprendizado: há um porquê disso ter chegado para mim"; a companheira ressaltou que, quando processe assim, "estou me amando", reconhecendo que enfrentar as dificuldades do caminho "é minha luta para melhorar: temos a consciência, mas a prática é difícil", completou.
"Quando procuramos nos amar", propôs Iva, "aprendemos a amar o próximo, porque quando colocamos tudo para nós vemos a necessidade do outro". Já Eliene comentou que tem de ser caridosa consigo mesma, "com todas as minhas necessidades e defeitos"; para ela, a Doutrina Espírita tira-nos a venda dos olhos, "mas dar um passo em falso uma vez ou outra não nos desmerece", porquanto o auto-amor, disse, "é o reconhecimento de nós mesmos; não posso dar o que não tenho", afirmou. Intervindo, a Coordenação ressaltou que, presentemente, o melhor para cada um de nós é envidarmos todos os esforços no sentido do autoaprimoramento, com vistas à situação futura.
Em seguida, Marilene comentou as dificuldades no cuidado de sua genitora, estimulada pelo relato de Eliene, para exemplificar o amor ao próximo: "Essas coisas mexem muito com a gente", disse, lembrando que sua mãe era uma mulher ativa e na velhice fragilizou-se por demais. Por seu turno, Luiza observou a própria experiência cuidando de uma irmã enferma, o que fez um outro irmão requisitar seus serviços quando também adoeceu: "Isso é amar o próximo", disse ela, revelando que servir assim produz grande bem-estar.
Por fim, Marilda ponderou que sempre teve medo de "perder" sua mãe, "ela que se preocupou muito comigo", e nessa preocupação a mãe escondia da filha a doença que enfim a levou à desencarnação: "Sofri por muito tempo", disse a companheira, confessando o forte apego que a dominava e que só reconheceu ao tomar contato com a Doutrina Espírita: "Vim ao Centro para compreender o que é a morte e só agora, 25 anos depois, começo a me desapegar"; para ela, o apego é causa de sofrimento, ao passo que o amor contagia os outros quando próximos de quem ama...

Depois disso, fez-se a leitura do texto evangélico no qual Allan Kardec explora o tema que dá título ao capítulo correspondente ("Bem-aventurados os aflitos"), ressaltando "a compensação que espera aqueles que sofrem, e a resignação que faz abençoar o sofrimento como o prelúdio da cura". Chamados os participantes aos comentários coube a Marilda falar primeiro, relatando a situação de um aluno da escola onde ensina, o que a emocionou muito. Marlene, por sua vez, conceituou que resignar-se é aceitar a dor e procurar corrigir-se. A Coordenação pontuou que o texto do Codificador, examinado à luz do Espiritismo e da doutrina do Cristo, permite considerarmos que, pelo convite à resignação, somos chamados a ressignificar o que chamamos de sofrimento, em razão de enfrentarmos somente provas neste mundo, com vistas ao aperfeiçoamento espiritual.
Já Isabel recordou recente experiência na volta a sua cidade natal, revivendo um episódio do passado durante o qual teve necessidade de perdoar uma ex-colega, ficando contente, conforme revelou, "por ver que melhorei um tantitnho assim". Encerrando os comentários do dia, Regina também relatou as dificuldades enfrentadas junto à mãe enferma, bem como a convivência com alguém de suas relações que passa por uma situação penosa, além de registrar uma conversa que teve com uma desconhecida no ônibus, certa vez, quando essa pessoa lhe contou os dramas da própria vida; segundo a companheira, "é o amor que me chama para ouvir essas criaturas"...

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Resignação

"Motivos de resignação", tópico (o 12.º) do quinto capítulo de O Evangelho Segundo o Espiritismo, estará na pauta das atividades deste sábado, dia 20 de junho, no Grupo de Estudo Jesus de Nazaré, sob a condução da própria Coordenação. Paralelamente, abordaremos também o sexto capítulo do livro Mensagens de Saúde e de Consciência (Joanna de Ângelis - Divaldo P. Franco). Certamente encontraremos correspondência entre as ponderações de Allan Kardec e as da Benfeitora Joanna de Ângelis, propiciando bons momentos de reflexão para a posterior tomada de decisões com vista ao equilíbrio do ser encarnado...
Vamos lá? O Cristo chama e seus emissários em Seu nome colaboram como nossos propósitos, de modo que sobram razões para nos resignarmos à vontade do Senhor...


Judas em mim, em nós...

No sábado que passou, 13 de junho, em vez de engrossarmos o coro em torno do "santo casamenteiro" voltamos a abordar o comportamento de Judas, agora trazendo-o para dentro de nós mesmos, tentando avaliar o quanto ainda agimos contrariamente às mensagens de Jesus. O trabalho, que Carminha finalizou com base no texto de Boa Nova ("A ilusão do discípulo", de Humberto de Campos, por Chico Xavier), teve a participação deste escriba-coordenador, Egnaldo, Valquíria, Nilza, Marilda, Ilca, Iva, Roberto, Fernando, Cristiano, Regina Mendes, Waldelice, Magali, Marlene e Marilene, além da própria Carminha.
Primeiro, ela realizou a distribuição da consigna, constante de duas perguntas convidando à auto-reflexão: "Com que intenção você administra sua vida perante o Cristo? Quantas vezes você distorce a mensagem do Cristo?" Depois, a companheira fez breve preleção, recordando a aula anterior, comentando a tradição de "malhar o Judas", fazendo-nos reconsiderar a traição do apóstolo a partir dos novos ensinamentos, propiciados pelo Espiritismo. Em seguida, os participantes da atividade foram convidados a responder às questões formuladas numa discussão em duplas, antes da partilha grupal.
Chegado o momento dos comentários individuais, Waldelice, tomando a palavra, disse que suas intenções são as melhores possíveis, mas o fazer é que é difícil, afirmando tentar administrar a própria vida com moralidade, pelos princípios evangélicos, "mas no caminho cometo alguns desvios"; ainda assim, ela salienta que "a mensagem do Cristo, para mim, é agora", embora haja, no dia a dia, momentos em que ela deturpa os ensinamentos do Mestre, quando afloram a vaidade, a incompreensão...
Egnaldo confessou administrar muito mal sua vida: "Falta-me preparo para essa administração", disse, embora reconheça ter os princípios norteadores, adquiridos na vivência com os padres, na infância e adolescência; no entanto, disse ele que a marca atual de sua vida é a prepotência, apesar do ideal de amor e caridade que já abriga no íntimo, por isso afirma estar "no caminho", o que não o impede de muitas vezes deturpar a mensagem do Cristo, conforme afirmou, principalmente quando se faz de vítima.
"Depois de conhecer o Evangelho, tento administrar minha vida em função dele", disse Regina Mendes, salientando que, para isso, faz link com as lições de Jesus em cada situação vivida. Segundo ela, essa prática ainda é difícil, "pois muitas vezes me deparo com a prepotência", sendo que a humildade é uma de suas maiores dificuldades, "porque me melindro facilmente"; para a companheira, "às vezes achamos fazer o bem aos outros e o resultado mostra outra coisa"...
Por sua vez, Railza declarou nunca ter pensado que houvesse de sua parte intenções, apenas "vou vivendo". Quanto a deturpar a mensagem cristã, ela aquiesceu, contando um recente episódio pessoal no qual exacerbou a impaciência, destratando alguém: "Tenho afrontado a mensagem", ressaltou. Já Roberto considerou ter que encontrar um culpado quando as coisas saem do eixo em sua vida, "e é aí que deturpo a mensagem"; ele reconheceu, contudo, ver a si próprio culpado, ao adentrar  o conhecimento com Jesus.
Marlene, a seu turno, observou que sua intenção é seguir as orientações, "mas nem sempre alcanço esse objetivo: caio, resvalo, erro, mas já identifico que errei; deturpo a proposta de Jesus quando quero que as pessoas façam como eu faço, quando acho que estou certa e me irrito quando me dizem que errei", afirmou, salientando ficar alegre por lhe chamarem a atenção quanto ao erro, ficando irritada, por outro lado, por ter-se permitido errar, sentindo-se infalível: "Não gosto de me apegar à fala de ser imperfeita, mas o Evangelho está à frente para me conduzir", completou.
"Minha intenção, hoje, é a melhor possível", informou Fernando, frisando, porém, que a concretização do desejo é bem diferente; quanto à deturpação, ele disse que acontece "sempre que não concretizo a intenção, e então traio Jesus". Segundo o companheiro, "malhamos" Judas porque temos a consciência pesada pelos erros cometidos. Já Cristiano considerou que só não deturpa o ensinamento do Cristo "quando ajo com minha convicção".
Depois que os companheiros se manifestaram, Carminha procedeu ao encerramento da atividade declarando que também ela se comporta como Judas "quando traio meus princípios, barganho com Deus e abandono os compromissos de minha alma". Em seguida ela leu trecho da "Lição do essencial", interessante capítulo do livro Jesus no Lar (Neio Lúcio - Chico Xavier) e por fim distribuiu aos presentes cópias da entrevista feita por Humberto de Campos com Judas, no Plano Espiritual (texto abaixo).

Uma entrevista com Judas Iscariotes

O consagrado escritor Humberto de Campos encontra em Jerusalém, às margens do Jordão, o até hoje incompreendido Judas Iscariotes. Com ele conversa sobre a condenação de Jesus e realiza esclarecedora entrevista, ditada a Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, em 19 de abril de 1935. Leiamo-la.
Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde o Precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.
- Sabe quem é este? - murmurou alguém aos meus ouvidos. - Este é Judas.
- Judas?!...
- Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas costuma vir a Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...
Aquela figura de homem magnetizava-me. Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo.
- O senhor é, de fato, o ex-filho de Iscariotes? - perguntei.
- Sim, sou Judas - respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica.
Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios...
- E uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?
- Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e as tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilotos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder, já que, no seu manto e pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que, aliás, apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.
- E chegou a salvar-se pelo arrependimento?
- Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus, e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...
- E está hoje meditando nos dias que se foram... - pensei com tristeza.
- Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda na cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe... Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor... Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores.
Quanto ao Divino Mestre - continuou Judas com os seus prantos - infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões do ouro amoedado...
- E verdade - concluí - e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-LO.
Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Ainda Judas... sem judiação!

A segunda investida sobre o comportamento do apóstolo Judas ante o Cristo e demais companheiros de apostolado, ainda sob a condução de Carminha e com base no texto de Humberto de Campos (Espírito) no livro Boa Nova (psicografia de Chico Xavier), será levada a cabo e a termo neste sábado, dia 13 de junho. Desta vez não haverá análise da atitude de Judas, que aparecerá na atividade apenas como referencial para abordarmos o modo como nos conduzimos, individualmente e em conjunto, quanto ao compromisso firmado com a própria consciência e com o próprio Jesus, como novos discípulos seus que somos. Será, assim, mais uma oportunidade para validarmos nossa atuação na seara espírita, sendo de uma vez por todas os verdadeiros cristãos de que nos fala Allan Kardec nas páginas de O Evangelho Segundo o Espiritismo.



domingo, 7 de junho de 2015

Judas em julgamento

A proposta do estudo do sábado, 6 de junho, enfocando o comportamento do apóstolo Judas, segundo o esclarecimento de Carminha, condutora da atividade, era menos julgar e mais fazer-nos compreender as motivações do "discípulo iludido", de conformidade com o texto de Humberto de Campos, autor espiritual da obra Boa Nova, psicografada pelo médium Francisco (Chico) Cândido Xavier. Além da própria Carminha e do coordenador do "Jesus de Nazaré", Francisco, estiveram presentes também Maria Luiza, Valquíria, Marilda, Marlene, Nilza, Magali, Waldelice, Roberto, Regina Mendes, Fernando,Cristiano, Quito e Iva. O trabalho seguiu, após a necessária leitura do texto, com a separação da turma em subgrupos que tiveram por dever a reflexão sobre esta consigna: "Partindo do princípio de que Jesus disse: Quem tem olhos de ver, veja; quem tem ouvidos de ouvir, ouça, como analisar o comportamento ilusório de Judas? - 1 - Pela autoridade que ele tinha por ser tesoureiro do grupo. 2 - Pela ambição de tomar o poder." Depois disso, os participantes passaram a partilhar suas impressões.
Regina Mendes disse que teve de fazer uma projeção do que Judas passou sendo discípulo de Jesus, participando daquele aprendizado e acompanhando o Mestre, mas colocando-se pelo imediatismo, usando seu poder como tesoureiro, que é até hoje um cargo de grande responsabilidade. Judas, continuou a companheira, manifestou egoismo em duas situações: na execução de seus planos, justificados pelo que ele julgava ser um bom propósito, e na traição, cometendo suicídio, ao conscientizar-se de que o resultado foi contrário a suas pretensões. "Jesus pede-nos fidelidade a suas propostas", acrescentou Regina, observando que Judas se desviou das recomendações do Messias ao ter o poder nas mãos... Já Waldelice argumentou que Judas não queria ser maior que Jesus, mas achou que, no poder em Israel, faria o Messias ter maior destaque, principalmente entre os poderosos da época; o apóstolo, em razão dessa ingenuidade, foi traído também, disse ela, de modo que Judas se entristeceu ao ver seus planos serem derrotados daquela forma.
Valquíria destacou o tirocínio de Judas: "O tesoureiro traçou as metas, que só são alcançadas se houver dinheiro em caixa", salientando que o apóstolo financiava os deslocamentos do grupo, administrando valores e estabelecendo a logística das peregrinações de Jesus, cumprindo o programa traçado pelo Mestre. No entanto, disse ela, Judas trabalhava com uma "energia muito pesada", de modo que em Jerusalém, "a cidade do poder", ele viu chance de executar seus planos. Para a companheira, não só a questão moral devemos observar no episódio, porquanto o apóstolo lidava com as circunstâncias do momento, e ainda sofria um drama profundo em sua alma: queria as coisas que sua ambição lhe ditava e amava muito a Jesus. Judas, afirmou Valquíria, era culto, inteligente e pensava articular-se com os poderosos de Israel, mas não esperava ser traído e assim ficou perdido...
Em seguida, Roberto considerou que aparentemente Judas não participava conscientemente das orientações ministradas pelo Cristo, o que explicaria o fato de abrigar esses planos imediatistas, até a decepção no final. Para o companheiro, os ensinos de Jesus preconizavam tanto o progresso horizontal quanto o vertical, mas Judas só via as coisas do mundo. Na opinião de Quito, Judas era "um peixe fora d'água", estava no grupo dos 12 mas não tinha envolvimento nem sentimento de pertencimento. Luiza, porém, argumentou que Judas "já veio com a missão de fazer algo junto a Jesus", mas o fez, segundo ela, de modo diferente da combinação prévia, "e depois ele se arrependeu"...
"Ele não manifestou as qualidades propostas por Jesus", ponderou Marlene, acrescentando que Judas tinha o desejo do poder e queria mobilizar o povo mais esclarecido, vendo que os pobres e doentes não ajudariam seus planos embora Jesus os preferisse ("Eu não vim para os sãos, mas para os doentes..."). Com os poderosos de plantão ele julgava obter esse respaldo, a fim de libertar Israel do domínio de Roma: "Mas teve a petulância de colocar Jesus como seu subalterno, sem perceber que lidava com pessoas que não mereciam confiança. Foi um lunático" - sentenciou. Para Fernando, Judas enxergava, mas não via; escutava, mas não ouvia, e o resultado foi "um tiro no pé".
Cristiano, a seu turno, fez um questionamento: "Como seria essa história sem Judas?"; para ele, o apóstolo equivocado fez algo muito interessante: "Essa mensagem do Cristo não teria como ser difundida sem esse "tiro no pé", salientando discordar desse determinismo "tinha que ser assim". Judas tinha seu próprio jeito de pensar, de enxergar as coisas, mas talvez não tivesse como entender a proposta de Jesus, completou. Já Marilda disse acreditar que a compreensão de Judas acerca dos ensinos do Mestre correspondia a suas pretensões pessoais, de forma que distorcia as lições de Jesus, a quem ele amava, embora se comportasse como um homem do mundo, cego em sua ambição de tomar o poder, "porque o poder cega", afirmou.
No fechamento da atividade, que será retomada no próximo encontro, Carminha citou o texto do EADE que informa sobre Judas, dizendo que a personalidade dele era marcada pela ambição e pela vaidade. Ela salientou também que quando Jesus escolhe seus discípulos mais diretos inclui Judas entre eles; segundo a companheira, o apóstolo trazia com ele essa facilidade de "entregar" o Messias ao chegar o momento do sacrifício de Jesus. A ânsia política de Judas se explicava por seu desejo de libertar seu povo do domínio romano e para tanto, disse ela, ele se valeria da importância que o Mestre detinha perante o povo e somente quando Jesus é condenado e sentenciado à morte na cruz é que Judas se dá conta da profundidade das palavras do Cristo: "Meu reino não é deste mundo...".

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Judas mais uma vez entre nós

O trabalho a ser realizado neste sábado, dia 6 de junho, sob a condução da companheira Carminha Sampaio, vai enfocar o tema "A ilusão do discípulo", capítulo do livro Boa Nova no qual o autor espiritual, Humberto de Campos, destaca a atuação equivocada de Judas quanto a suas pretensões relativamente ao Evangelho. Será mais uma oportunidade - desde que há cerca de três ou quatro anos nos debruçamos sobre tal assunto, utilizando o módulo do Estudo Aprofundado da Doutrina Espírita (EADE, da FEB) que trata dos apóstolos de Jesus - que avaliarmos as características da personalidade de Judas Iscariotes a fim de aprendermos um pouco mais acerca de nós mesmos em nosso compromisso com o Cristo.