No sábado que passou, 13 de junho, em vez de engrossarmos o coro em torno do "santo casamenteiro" voltamos a abordar o comportamento de Judas, agora trazendo-o para dentro de nós mesmos, tentando avaliar o quanto ainda agimos contrariamente às mensagens de Jesus. O trabalho, que Carminha finalizou com base no texto de Boa Nova ("A ilusão do discípulo", de Humberto de Campos, por Chico Xavier), teve a participação deste escriba-coordenador, Egnaldo, Valquíria, Nilza, Marilda, Ilca, Iva, Roberto, Fernando, Cristiano, Regina Mendes, Waldelice, Magali, Marlene e Marilene, além da própria Carminha.
Primeiro, ela realizou a distribuição da consigna, constante de duas perguntas convidando à auto-reflexão: "Com que intenção você administra sua vida perante o Cristo? Quantas vezes você distorce a mensagem do Cristo?" Depois, a companheira fez breve preleção, recordando a aula anterior, comentando a tradição de "malhar o Judas", fazendo-nos reconsiderar a traição do apóstolo a partir dos novos ensinamentos, propiciados pelo Espiritismo. Em seguida, os participantes da atividade foram convidados a responder às questões formuladas numa discussão em duplas, antes da partilha grupal.
Chegado o momento dos comentários individuais, Waldelice, tomando a palavra, disse que suas intenções são as melhores possíveis, mas o fazer é que é difícil, afirmando tentar administrar a própria vida com moralidade, pelos princípios evangélicos, "mas no caminho cometo alguns desvios"; ainda assim, ela salienta que "a mensagem do Cristo, para mim, é agora", embora haja, no dia a dia, momentos em que ela deturpa os ensinamentos do Mestre, quando afloram a vaidade, a incompreensão...
Egnaldo confessou administrar muito mal sua vida: "Falta-me preparo para essa administração", disse, embora reconheça ter os princípios norteadores, adquiridos na vivência com os padres, na infância e adolescência; no entanto, disse ele que a marca atual de sua vida é a prepotência, apesar do ideal de amor e caridade que já abriga no íntimo, por isso afirma estar "no caminho", o que não o impede de muitas vezes deturpar a mensagem do Cristo, conforme afirmou, principalmente quando se faz de vítima.
"Depois de conhecer o Evangelho, tento administrar minha vida em função dele", disse Regina Mendes, salientando que, para isso, faz link com as lições de Jesus em cada situação vivida. Segundo ela, essa prática ainda é difícil, "pois muitas vezes me deparo com a prepotência", sendo que a humildade é uma de suas maiores dificuldades, "porque me melindro facilmente"; para a companheira, "às vezes achamos fazer o bem aos outros e o resultado mostra outra coisa"...
Por sua vez, Railza declarou nunca ter pensado que houvesse de sua parte intenções, apenas "vou vivendo". Quanto a deturpar a mensagem cristã, ela aquiesceu, contando um recente episódio pessoal no qual exacerbou a impaciência, destratando alguém: "Tenho afrontado a mensagem", ressaltou. Já Roberto considerou ter que encontrar um culpado quando as coisas saem do eixo em sua vida, "e é aí que deturpo a mensagem"; ele reconheceu, contudo, ver a si próprio culpado, ao adentrar o conhecimento com Jesus.
Marlene, a seu turno, observou que sua intenção é seguir as orientações, "mas nem sempre alcanço esse objetivo: caio, resvalo, erro, mas já identifico que errei; deturpo a proposta de Jesus quando quero que as pessoas façam como eu faço, quando acho que estou certa e me irrito quando me dizem que errei", afirmou, salientando ficar alegre por lhe chamarem a atenção quanto ao erro, ficando irritada, por outro lado, por ter-se permitido errar, sentindo-se infalível: "Não gosto de me apegar à fala de ser imperfeita, mas o Evangelho está à frente para me conduzir", completou.
"Minha intenção, hoje, é a melhor possível", informou Fernando, frisando, porém, que a concretização do desejo é bem diferente; quanto à deturpação, ele disse que acontece "sempre que não concretizo a intenção, e então traio Jesus". Segundo o companheiro, "malhamos" Judas porque temos a consciência pesada pelos erros cometidos. Já Cristiano considerou que só não deturpa o ensinamento do Cristo "quando ajo com minha convicção".
Depois que os companheiros se manifestaram, Carminha procedeu ao encerramento da atividade declarando que também ela se comporta como Judas "quando traio meus princípios, barganho com Deus e abandono os compromissos de minha alma". Em seguida ela leu trecho da "Lição do essencial", interessante capítulo do livro Jesus no Lar (Neio Lúcio - Chico Xavier) e por fim distribuiu aos presentes cópias da entrevista feita por Humberto de Campos com Judas, no Plano Espiritual (texto abaixo).
Uma entrevista com Judas Iscariotes
Primeiro, ela realizou a distribuição da consigna, constante de duas perguntas convidando à auto-reflexão: "Com que intenção você administra sua vida perante o Cristo? Quantas vezes você distorce a mensagem do Cristo?" Depois, a companheira fez breve preleção, recordando a aula anterior, comentando a tradição de "malhar o Judas", fazendo-nos reconsiderar a traição do apóstolo a partir dos novos ensinamentos, propiciados pelo Espiritismo. Em seguida, os participantes da atividade foram convidados a responder às questões formuladas numa discussão em duplas, antes da partilha grupal.
Chegado o momento dos comentários individuais, Waldelice, tomando a palavra, disse que suas intenções são as melhores possíveis, mas o fazer é que é difícil, afirmando tentar administrar a própria vida com moralidade, pelos princípios evangélicos, "mas no caminho cometo alguns desvios"; ainda assim, ela salienta que "a mensagem do Cristo, para mim, é agora", embora haja, no dia a dia, momentos em que ela deturpa os ensinamentos do Mestre, quando afloram a vaidade, a incompreensão...
Egnaldo confessou administrar muito mal sua vida: "Falta-me preparo para essa administração", disse, embora reconheça ter os princípios norteadores, adquiridos na vivência com os padres, na infância e adolescência; no entanto, disse ele que a marca atual de sua vida é a prepotência, apesar do ideal de amor e caridade que já abriga no íntimo, por isso afirma estar "no caminho", o que não o impede de muitas vezes deturpar a mensagem do Cristo, conforme afirmou, principalmente quando se faz de vítima.
"Depois de conhecer o Evangelho, tento administrar minha vida em função dele", disse Regina Mendes, salientando que, para isso, faz link com as lições de Jesus em cada situação vivida. Segundo ela, essa prática ainda é difícil, "pois muitas vezes me deparo com a prepotência", sendo que a humildade é uma de suas maiores dificuldades, "porque me melindro facilmente"; para a companheira, "às vezes achamos fazer o bem aos outros e o resultado mostra outra coisa"...
Por sua vez, Railza declarou nunca ter pensado que houvesse de sua parte intenções, apenas "vou vivendo". Quanto a deturpar a mensagem cristã, ela aquiesceu, contando um recente episódio pessoal no qual exacerbou a impaciência, destratando alguém: "Tenho afrontado a mensagem", ressaltou. Já Roberto considerou ter que encontrar um culpado quando as coisas saem do eixo em sua vida, "e é aí que deturpo a mensagem"; ele reconheceu, contudo, ver a si próprio culpado, ao adentrar o conhecimento com Jesus.
Marlene, a seu turno, observou que sua intenção é seguir as orientações, "mas nem sempre alcanço esse objetivo: caio, resvalo, erro, mas já identifico que errei; deturpo a proposta de Jesus quando quero que as pessoas façam como eu faço, quando acho que estou certa e me irrito quando me dizem que errei", afirmou, salientando ficar alegre por lhe chamarem a atenção quanto ao erro, ficando irritada, por outro lado, por ter-se permitido errar, sentindo-se infalível: "Não gosto de me apegar à fala de ser imperfeita, mas o Evangelho está à frente para me conduzir", completou.
"Minha intenção, hoje, é a melhor possível", informou Fernando, frisando, porém, que a concretização do desejo é bem diferente; quanto à deturpação, ele disse que acontece "sempre que não concretizo a intenção, e então traio Jesus". Segundo o companheiro, "malhamos" Judas porque temos a consciência pesada pelos erros cometidos. Já Cristiano considerou que só não deturpa o ensinamento do Cristo "quando ajo com minha convicção".
Depois que os companheiros se manifestaram, Carminha procedeu ao encerramento da atividade declarando que também ela se comporta como Judas "quando traio meus princípios, barganho com Deus e abandono os compromissos de minha alma". Em seguida ela leu trecho da "Lição do essencial", interessante capítulo do livro Jesus no Lar (Neio Lúcio - Chico Xavier) e por fim distribuiu aos presentes cópias da entrevista feita por Humberto de Campos com Judas, no Plano Espiritual (texto abaixo).
Uma entrevista com Judas Iscariotes
O consagrado escritor Humberto de Campos encontra em Jerusalém, às margens do Jordão, o até hoje incompreendido Judas Iscariotes. Com ele conversa sobre a condenação de Jesus e realiza esclarecedora entrevista, ditada a Chico Xavier, em Pedro Leopoldo, em 19 de abril de 1935. Leiamo-la.
Nas margens caladas do Jordão, não longe talvez do lugar sagrado, onde o Precursor batizou Jesus Cristo, divisei um homem sentado sobre uma pedra. De sua expressão fisionômica irradiava-se uma simpatia cativante.
- Sabe quem é este? - murmurou alguém aos meus ouvidos. - Este é Judas.
- Judas?!...
- Sim. Os espíritos apreciam, às vezes, não obstante o progresso que já alcançaram, volver atrás, visitando os sítios onde se engrandeceram ou prevaricaram, sentindo-se momentaneamente transportados aos tempos idos. Então mergulham o pensamento no passado, regressando ao presente, dispostos ao heroísmo necessário do futuro. Judas costuma vir a Terra, nos dias em que se comemora a Paixão de Nosso Senhor, meditando nos seus atos de antanho...
Aquela figura de homem magnetizava-me. Eu não estou ainda livre da curiosidade do repórter, mas entre as minhas maldades de pecador e a perfeição de Judas existia um abismo. O meu atrevimento, porém, e a santa humildade do seu coração ligaram-se para que eu o atravessasse, procurando ouvi-lo.
- O senhor é, de fato, o ex-filho de Iscariotes? - perguntei.
- Sim, sou Judas - respondeu aquele homem triste, enxugando uma lágrima nas dobras de sua longa túnica.
Como o Jeremias, das Lamentações, contemplo às vezes esta Jerusalém arruinada, meditando no juízo dos homens transitórios...
- E uma verdade tudo quanto reza o Novo Testamento com respeito à sua personalidade na tragédia da condenação de Jesus?
- Em parte... Os escribas que redigiram os evangelhos não atenderam às circunstâncias e as tricas políticas que acima dos meus atos predominaram na nefanda crucificação. Pôncio Pilotos e o tetrarca da Galiléia, além dos seus interesses individuais na questão, tinham ainda a seu cargo salvaguardar os interesses do Estado romano, empenhado em satisfazer as aspirações religiosas dos anciãos judeus. Sempre a mesma história. O Sanedrim desejava o reino do céu pelejando por Jeová, a ferro e fogo; Roma queria o reino da Terra. Jesus estava entre essas forças antagônicas com a sua pureza imaculada. Ora, eu era um dos apaixonados pelas idéias socialistas do Mestre, porém o meu excessivo zelo pela doutrina me fez sacrificar o seu fundador. Acima dos corações, eu via a política, única arma com a qual poderia triunfar e Jesus não obteria nenhuma vitória. Com as suas teorias nunca poderia conquistar as rédeas do poder, já que, no seu manto e pobre, se sentia possuído de um santo horror à propriedade. Planejei então uma revolta surda como se projeta hoje em dia na Terra a queda de um chefe de Estado. O Mestre passaria a um plano secundário e eu arranjaria colaboradores para uma obra vasta e enérgica como a que fez mais tarde Constantino Primeiro, o Grande, depois de vencer Maxêncio às portas de Roma, o que, aliás, apenas serviu para desvirtuar o Cristianismo. Entregando, pois, o Mestre, a Caifás, não julguei que as coisas atingissem um fim tão lamentável e, ralado de remorsos, presumi que o suicídio era a única maneira de me redimir aos seus olhos.
- E chegou a salvar-se pelo arrependimento?
- Não. Não consegui. O remorso é uma força preliminar para os trabalhos reparadores. Depois da minha morte trágica, submergi-me em séculos de sofrimento expiatório da minha falta. Sofri horrores nas perseguições infligidas em Roma aos adeptos da doutrina de Jesus, e as minhas provas culminaram em uma fogueira inquisitorial, onde, imitando o Mestre, fui traído, vendido e usurpado. Vítima da felonia e da traição, deixei na Terra os derradeiros resquícios do meu crime, na Europa do século XV Desde esse dia, em que me entreguei por amor do Cristo a todos os tormentos e infâmias que me aviltavam, com resignação e piedade pelos meus verdugos, fechei o ciclo das minhas dolorosas reencarnações na Terra, sentindo na fronte o ósculo de perdão da minha própria consciência...
- E está hoje meditando nos dias que se foram... - pensei com tristeza.
- Sim... estou recapitulando os fatos como se passaram. E agora, irmanado com Ele, que se acha no seu luminoso Reino das Alturas que ainda não é deste mundo, sinto nestas estradas o sinal de seus divinos passos. Vejo-O ainda na cruz entregando a Deus o seu destino... Sinto a clamorosa injustiça dos companheiros que O abandonaram inteiramente e me vem uma recordação carinhosa das poucas mulheres que O ampararam no doloroso transe... Em todas as homenagens a Ele prestadas, eu sou sempre a figura repugnante do traidor... Olho complacentemente os que me acusam sem refletir se podem atirar a primeira pedra... Sobre o meu nome pesa a maldição milenária, como sobre estes sítios cheios de miséria e de infortúnio. Pessoalmente, porém, estou saciado de justiça, porque já fui absolvido pela minha consciência no tribunal dos suplícios redentores.
Quanto ao Divino Mestre - continuou Judas com os seus prantos - infinita é a sua misericórdia e não só para comigo, porque, se recebi trinta moedas, vendendo-O aos seus algozes, há muitos séculos Ele está sendo criminosamente vendido no mundo a grosso e a retalho, por todos os preços, em todos os padrões do ouro amoedado...
- E verdade - concluí - e os novos negociadores do Cristo não se enforcam depois de vendê-LO.
Judas afastou-se tomando a direção do Santo Sepulcro e eu, confundido nas sombras invisíveis para o mundo, vi que no céu brilhavam algumas estrelas sobre as nuvens pardacentas e tristes, enquanto o Jordão rolava na sua quietude como um lençol de águas mortas, procurando um mar morto.
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