domingo, 30 de setembro de 2012

Benefícios da dúvida

As informações sobre Tomé encerram os comentários a respeito do Colégio Apostolar de Jesus e por isso colocamos um ponto em nossas digressões vivenciais no tocante às respectivas abordagens suscitadas pelas leituras do módulo do EADE. Desse modo, a última conversa, versando acerca das dúvidas que por vezes nos assaltam, também envolveu necessariamente a questão da fé, como contraponto à atitude/condição do apóstolo que questionou a veracidade da ressurreição do Cristo. Nesta atividade, além dos coordenadores Francisco e Maria Luiz, cooperaram Railza, Fernando, Marilene, Isabel, Fernanda, Acely - retornando de uma pausa forçada por uma enfermidade -, Egnaldo, Valquíria, Jaciara - que trouxe a filha, Luciana -, Roberto e Marilda.
O trabalho começou, logo após a prece, antecedida por um minuto de proveitoso silêncio, com a citação destes versos da famosa oração atribuída ao místico italiano Giovanni Bernardone, que passou à história hagiográfica como Francisco de Assis: "Onde houver dúvida, que eu leve a fé". Em seguida teve lugar uma explanação balizando nossa capacidade de duvidar dos informes relativos à realidade espiritual, isto é, nossa condição mais íntima, com o exemplo de Tomé. Ora, Jesus, ressuscitado dá testemunho da vida espiritual independente da matéria. Tomé duvidou disso, o que em suma significa duvidar de si mesmo, porquanto cada homem na Terra é um Espírito (re)encarnado... Sendo assim, inevitável foi propor esta pergunta: "Eu ainda duvido?".
Observemos os comentários.k
Egnaldo, tomando a palavra, refere os avanços tecnológicos da atualidade afirmando que no passado qualquer um duvidaria que pudessem ser possível aparelhinhos que encurtassem as distâncias e mostrassem com precisão a localização de alguém... Marilene começou questionando a si própria: "O que preciso fazer para avançar nessa mudança?", ponderando que não desconhece nem nega sua realidade/condição espiritual; "contudo, sofro muitas decepções e me imponho uma postura que não gostaria de ter: quando o outro não atende às minhas expectativas, essa postura de não aceitação atrasa meu caminhar..."
"O trabalho não é só aqui" (na casa espírita), disse Valquíria, salientando que em toda parte somos intuídos para as tarefas de crescimento espiritual, pelo diálogo com os outros, através de leituras edificantes e da participação em eventos informativos relacionados à atividade da alma; no entanto, observou, "as pequenas coisas do dia a dia nos causam perturbação; ainda estou buscando o equilíbrio para a boa convivência, pois algumas coisas no outro ainda me irritam..." E Egnaldo, voltando ao pensamento futurista, declarou que os Espíritos que chegam na condição de nossos netos - e já somos quase todos avós no Grupo -  fazem-nos perceber que o futuro chegou e com isso mudamos nossa capacidade de ver a nós mesmos...
Railza também começou fazendo um relato dos avanços da Ciência e declarou, conforme anúncio científico, que brevemente estaremos nos comunicando telepaticamente, abdicando do esforço físico que se faz para falar. Quanto ao tema em estudo, ela trouxe a colaboração de Pastorino, segundo quem Tomé não duvidou da ressurreição por mera incredulidade, mas por espírito investigativo, comprovando a veracidade do fenômeno promovido pelo Cristo. Tal comportamento, disse Railza, contraria a ideia de que o outro seja uma cruz (*): "Ainda não nos conhecemos; desencarnamos e reencarnamos nesse processo de busca por nós mesmos", afirmou, acrescentando ser ela própria um "exemplo do que não se deveria fazer, porque faço o errado, falo mal do outro, embora saiba ajudar". Ela reconhece que deve ser mais paciente, sem ser complacente consigo própria, porque, "se o jugo é suave, como diz o Evangelho, cada um administra sua cruz"...

(*) A companheira se referia à intervenção da Coordenação no comentário de Marilene, argumentando que, conforme o critério estabelecido por Jesus para o seguirmos, é necessário tomar a própria cruz e renunciar a si mesmo, como tarefa individual em meio à convivência com os semelhantes, de modo que, pelo pensamento da Coordenação, o outro seria essa cruz; não, porém, a do martírio, mas a da libertação, ao nos dar a possibilidade de, trazendo-nos resistência e sofrimento, passarmos à etapa seguinte da experiência evolutiva ("...Pois em verdade vos digo que não saireis daí até pagardes o último ceitil...")

Falando em seguida, Isabel afirmou que quando se está equilibrado fica fácil suportar o outro, pensamento este aproveitado por Marilene, afirmando precisar do outro para seu crescimento, posto que os companheiros de caminhada são instrumentos de aperfeiçoamento. Mais tarde ela falaria da necessidade de auto afirmação, ponderando que devemos acreditar que conseguimos as coisas; disse que, um dia, quando se sentia especialmente cansada da semana estafante, saindo para o emprego, pensou que gostaria de uma carona que a deixasse em seu local de trabalho; depois, refletindo melhor, pensou: "Gostaria, não; eu quero uma carona!". Nesse mesmo momento viu parar um carro ao seu lado, conduzido por um motorista a serviço de sua repartição, o que a levou a afirmar: "Não posso ficar na condicionalidade; poderia pensar em coincidência, mas o motorista me viu e parou! É a fé, para me fazer ver que eu posso, que podemos; geralmente pensamos que as coisas boas não vêm para nós, só a dificuldade, mas não é assim!"
Por sua vez, Acely disse ver no comportamento de Tomé a necessidade da simplicidade, seu objetivo de conquista: "Tenho espírito de cobrança, embora tenha necessidade de ser simples, tropeçando assim por segundo". Para ela, ser simples significa transcender o modo como vivemos: "As coisas se complicam porque a gente julga os outros e tenta enquadrá-los em [nossos] modelos; ora, assim como estou crescendo o outro também está; com isso a simplicidade fica comprometida, causando sofrimento". Acely disse também, contando um pouco de sua história, que, quando começou a se envolver com o Espiritismo, acreditou piamente na Doutrina, de modo que não precisa que ninguém lhe prove nada. "Só tenho dúvida quanto às minhas ações, à minha visão de vida", completou.
"Acredito que vivemos testados no dia a dia", observou Jaciara, apontando que tais testes acontecem em todo lugar: "Em casa, no trabalho... e precisamos ter fé para superar os obstáculos"; para exemplificar seu argumento, ela citou as dificuldades enfrentadas com colegas de trabalho, quando chamada para coordenar um projeto e sentiu a resistência dos subordinados; Jaciara, então, começou a
sentir a energia pesada no ambiente, não permitindo que houvesse clima para o diálogo; para dissipar tais miasmas, ela passou a fazer uso de mensagens impressas, dessas que os centros espíritas costumam distribuir aos frequentadores, reparando que os impressos sumiam invariavelmente: "Não sei se liam e levavam ou simplesmente jogavam fora", disse, salientando que deixava as mensagens numa mesa comum antes que os colegas chegassem para o trabalho; essa situação perdurou até a eclosão de um dos últimos conflitos, ocasião em que, para não perder as estribeiras, ficou cantando baixinho o hino "Quanta luz", compreendeu, por inspiração ela ela mesma que precisava se acalmar para ficar a cavaleiro daquele estado de coisas...
Após Egnaldo voltar a falar, dizendo que habitualmente somos como Tomé, condição que se modifica à medida que crescemos, foi a vez de Roberto expor sua opinião. Segundo ele, Kardec já falava que devemos ser investigativos - e passou a contar o que ouviu de um palestrante: "O homem não acredita no Espírito, mas no futuro vamos nos comunicar com os que já partiram pelo telefone celular!" (Nesse momento, a Coordenação pediu vênia para contar a experiência do escritor Coelho Neto, que pode ser lida aqui, guardando relação com o tema em estudo.) Ainda de acordo com Roberto, "o progresso vai chegando pelo esforço intelectual do homem"; mas para falar do progresso no campo moral ele citou a experiência de um conhecido seu, tido como "médium completo", mas que não se cuida como achamos que deveria; aconteceu de esse médium perceber um dia em seu campo vibratório uma certa entidade que se manifestava como "caboclo", embora o médium não lhe divisasse a imagem; instado a revelar-se, o Espírito mostrou-se "como uma palmeira"...
Acely voltou a falar de sua crença, afirmando que ante qualquer dificuldade material costuma recorrer a Deus, em prece, "e imediatamente sou atendida"; e também "tenho tido respostas para várias questões de ordem moral"; em vista dessa assistência espiritual recebida, ela inquire: "Como posso duvidar?", acrescentando que "a certeza de que tudo é transitório aumenta a fé que conforta". Valquíria também voltou à carga e igualmente reafirmou sua crença, relembrando a origem histórica do Brasil para exemplificar a vida espiritual. "Viver as coisas simples que dependem de nós", disse ela, "é ainda uma dificuldade", considerando que "do berço até hoje sou uma santa, mas minha dificuldade com o outro remonta às reencarnações, então creio!". Para Valquíria, a crença de Tomé não levasse à mudança pelo fato de ele ter duvidado do Cristo - e citou o papel das mulheres que conviveram com Jesus, que o amaram incondicionalmente...
Fernanda, embora estivesse presente, preferiu enviar a opinião dela depois, através de comentário neste blog: "A minha fé passa pela compreensão e entendi isso ao ler no ESE sobre a fé inabalável. Gosto quando não me sinto satisfeita com o meu progresso. Isso quer dizer que não me acomodei com o que consegui. Procuro analisar a minha caminhada e perceber em que mudei. Aprendi a valorizar a minha mudança, por menor que ela seja. E se me sinto insatisfeita... mãos à obra, ainda há muito trabalho a realizar".
Já perto do final da atividade Fernando, que é um dos decanos do grupo, pediu a palavra. Ele disse que ainda duvida muito: "Minha fé é vacilante, mas menos que ontem, em função do processo de crescimento, que é individual e intransferível; deixamos de duvidar naturalmente, pelo esforço empreendido ao longo da existência"; para tanto, ele frisou o auxílio indispensável do Espiritismo, embora reconheça que haja informações que não podem chegar ao homem ainda, conforme apontam os Espíritos da Codificação. "Jesus só falou o que aquele povo podia entender e hoje já recebemos bem mais", observou, considerando que o exemplo de Tomé é mais generalizado, de acordo que o que temos estudado: "Todos duvidaram", disse Fernando, referindo-se à quase totalidade dos discípulos que na hora crucial do Cristo o deixaram sozinho, assim como durante suas pregações poucos souberam compreender seus ensinamentos: "Não puderam andar sobre as águas! Tomé só explicitou a dúvida, o que não é um crime, não é desdouro; o problema é ficar sempre nesse patamar, sem procurar crescer", analisou. Para ele, ter fé é acreditar na [possibilidade de] transformação moral - "e isso exige convicção", disse, acrescentando que "os espíritas de hoje são os cristãos de ontem" e que "o medo faz-nos ter dúvida", mas "o Espiritismo me fez mudar de condição em relação ao medo".
No final da atividade, à guisa de prece, durante a qual envolvemos em vibração a companheira Isabel, que se submeteria a uma intervenção cirúrgica na semana seguinte, Acely procedeu à leitura de um trecho do livro "Paz todo dia", de Lourival Lopes, enfocando a fé que remete ao esforço individual para resultar em merecimento da cada um.

Um comentário:

  1. A minha fé passa pela compreensão e entendi isso ao ler no ESE sobre a fé inabalável.

    Gosto quando não me sinto satisfeita com o meu progresso. Isso quer dizer que não me acomodei com o que consegui. Procuro analisar a minha caminhada e perceber em que mudei. Aprendi a valorizar a minha mudança, por menor que ela seja. E se me sinto insatisfeita... mãos à obra, ainda há muito trabalho a realizar.

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