sábado, 5 de dezembro de 2015

Escravo, eu?

Num trabalho que leva ao autoconhecimento, como os que os grupos de estudo de uma Casa Espírita realizam, uma pergunta bem feita resulta em depoimentos bastante reveladores da condição em que ainda nos encontramos. Foi o que pudemos perceber neste sábado no âmbito do "Jesus de Nazaré", ao abordarmos a primeira parte da lição sobre Maria (Boa Nova, por Humberto de Campos, Espírito, e Chico Xavier, médium), a mãe de Jesus. A essa atividade, conduzida por Carminha, comparecemos Cristiano, Luiza, Marilda, Marilene, Railza, Lígia, Nilza, Fernando, Bonfim, Regina Mendes, Roberto, Egnaldo, Iva, Jaciara, Magali, Waldelice, Valquíria e Marta, mais este escriba, dublê de coordenador. Além desse trabalho, a Coordenação também distribuiu a ficha da autoavaliação com as duas questões elaboradas a partir das virtudes trabalhadas ao longo do ano: 1 - Que dificuldades encontrei para vivenciar o equilíbrio ao longo deste ano? e 2 - O que consegui superar dentro de mim neste ano que termina?.
Carminha começou resumindo, em tom emocionado, a primeira parte do belo texto de Humberto de Campos, contando com a atenção dos companheiros presentes, e depois solicitou uma breve reflexão acerca do compromisso de Maria perante Deus e a Espiritualidade e então propondo que discutissem em duplas a consigna distribuída: Você se reconhece como o(a) escravo(a) a serviço da vontade do Senhor? Essa pergunta remetia ao episódio da Anunciação, quando a então noiva de José ajoelha-se diante do Anjo e declara: "Eis aqui a escrava (ou serva) do Senhor. Faça-se em mim segundo Sua vontade". Depois dessa discussão foi aberta a partilha.
Primeiro a falar, Egnaldo revelou sua condição de escravo, ou servidor, salientando, contudo, que falha muitas vezes e que o termo escravo "é forte": "Quando fazemos um trabalho voluntário é porque acreditamos na causa", disse, acrescentando que, nessa proposta, o que o move é a intenção de ajudar. Por sua vez, Marilene declarou estar a serviço de própria vontade, por enquanto, mas "um dia me tornarei escrava do Senhor e só espero que não leve muitos milênios, porque hoje o que quero é me tornar melhor". Regina afirmou não se reconhecer escrava mas disse que passou o ano refletindo sobre o chamamento à renúncia da própria vontade, travando uma "grande guerra" consigo mesma para, pelo menos, não fugir da situação vivenciada, "o que seria muito fácil, mas tenho de ir até o fim"...
Depois foi a vez de Iva, que igualmente não se reconhece como escrava imposta, "pois tenho o livre arbítrio, tenho consciência de que vim servir à família, aos amigos, à Casa Espírita, principalmente pela profissão que escolhi"; segundo ela, sua condição é de "escrava livre", atenta à própria responsabilidade. Outro que não se reconheceu escravo foi Roberto, dizendo que, se assim fosse, Deus não seria perfeito: "Quero sentir esse Deus, esse Jesus como um espelho para mim", sentenciou. Já Waldelice reparou que escravo é quem não tem vontade própria: "Me considero serva, tenho prazer em servir a Jesus e a Deus, porque cada dia mais entendo que minha encarnação é para isso".
Para Valquíria, a condição de escravo é a da entrega total e por isso não se sente coagida: "Busco em Maria a confiança que ela demonstrou, era essa a missão dela". Railza, por outro lado, depois de referir a questão antropológica em torno da escravidão, em razão da história do povo brasileiro, declarou ser serva, sim, "mas rebelde, que pula a cerca, forma quilombos e luta pelo processo de minha libertação"; segundo ela, há coisas que faz obedecendo a Deus, mas são ocasiões em que sente cumprir um dever: "Não estou aqui para receber pancada em nome da vontade de Deus", salientou.
Quanto a Marta, ela disse tentar ser essa escrava: "Pelo que tenho passado, descobri que tenho de chegar a essa condição e estou consciente do trabalho no físico e no espírito", revelou.
Em seguida, Fernando considerou não se reconhecer ainda esse escravo, "porque a minha vontade ainda prevalece". Também Luiza repudiou a sensação impositiva do termo "escrava" e revelou não se sentir assim, embora dissesse que se deixa conduzir pela vida... "Não me sinto escrava", ponderou Jaciara, acrescentando que "para que eu seja realmente serva, preciso trabalhar o equilíbrio, estar focada em minhas possibilidades para vencer as limitações, ser mais consciente e compromissada"; para ela, é imprescindível, para alcançar tais metas, "trabalhar para superar o medo". E já no final da atividade, o Coordenador lembrou que costumeiramente mentimos ao recitar o Pai Nosso, dizendo, como ensinou-nos o Cristo, "seja feita a vossa vontade", porque nesse momento intimamente estamos afirmando: "desde que a minha vontade não seja contrariada e minha família, poupada", de modo que tão cedo não nos comportaremos como a Mãe Santíssima...


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