Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor?
Esse poema de Luiz de Camões deu o mote para o trabalho realizado neste sábado, quando mais uma vez tentamos enfrentar nosso problema de entendimento, focando nossa pretensa humanidade de acordo com o ditado "errar é humano" e com o pensamento da Benfeitora espiritual Joanna de Ângelis expresso em sua tríade "humanizar, espiritizar e qualificar". A atividade teve a participação de Railza, Fernando, Valquíria, Bonfim, Cristiano, Lígia, Isabel, Ilca, Regina, Carminha, Marilda, Cláudia, Luiza, Quito e Marilene, além dos coordenadores - Francisco e Fernanda - e de Nilza, que nos visitava. (Nilza é uma das coordenadoras, junto com Luiza e Isabel, do Encontro com Jesus, um dos grupos terapêuticos mantidos pela Cobem.) Depois da introdução, a turma foi separada em dois subgrupos para análise da consigna, conhecida após a leitura do poema: "Em meio às contradições de minha vida, que devo entender, a partir desse sentimento chamado amor?"
Aberta a partilha, Egnaldo iniciou os comentários com uma indagação: como se sabe o que é amor, se sabe o que é amor, se há oposições como o ódio? Então ele questionou um dos versos de Camões, negando que o amor seja fogo, como afirmara o poeta português. "Quando é fogo é paixão", disse, pois amor, segundo ele, é serenidade, é consciência. Afirmou ainda que por amor havia guerras, antigamente ("a de Tróia, por exemplo"), "mas o amor não tem barreiras, é algo sólido", razão pela qual "devemos ter paciência para chegar ao amor", completou.
Fernando declarou que se Camões escrevesse seus versos hoje, depois de ter aprendido no Plano Espiritual, faria um poema diferente, com outros conceitos: "É difícil, para nós, entender o que é o amor, pelas deturpações observadas", disse ele, considerando que é aí que o Espiritismo nos ajuda, trazendo o amor em seu aspecto real; segundo Fernando, o verdadeiro sentido do amor está no Cristo, porquanto Ele afirmou que "o amor cobre a multidão de pecados", o o amor que não observa a condição das pessoas para que as amemos, o amor incondicional. Já Bonfim opinou que "o amor é tudo", explicando que Camões explicitou em seu poema as conceituações de sua época; ele disse também que tudo que há existe por causa do amor e que as leis naturais têm base na Lei de Amor, de modo que "tudo que imaginarmos é o amor"; assim, considerou, enquanto o corpo serve à evolução, está no dever do espírito tudo fazer com o máximo de perfeição possível.
Por sua vez, Railza observou que somos expressão do amor de Deus e à medida que reencarnamos sucessivamente experimentamos essas contradições. Reportando-se à fala de Fernando, ela lembrou que o médium Divaldo Franco ofereceu-se como canal de uma comunicação do Espírito Luiz de Camões num dos congressos espíritas da Bahia, ocasião em que falou de seu novo olhar sobre o amor. Depois, ela teceu considerações sobre a condição feminina, revelando que "não é fácil ser esposa e conviver com o homem", impondo-se aí o exercício da abnegação "junto a um ser que culturalmente absorveu os conceitos de provedor, chefe de família, dono da casa..."; após isso, discorreu ac erda da experiência reencarnatória do Espírito Joanna de Ângelis e sua atuação como freira socorrendo as mulheres desafortunadas relegadas ao claustro: "Quanto esforço para manter o feminino!", ponderou.
A fala inicial de Valquíria foi interceptada pela Coordenação, que procedeu à leitura do seguinte trecho do livro O pequeno laboratório de Deus, no qual o autor, Hermínio C. Miranda, biografa o cientista negro norte-americano George Washington Carver:
"Pouco a pouco, ele foi se impondo aos outros como um homem de bem, que inspirava respeito e admiração pelo seu comportamento e pela inteligência de que era dotado.
"Entregou-se por inteiro ao estudo de botânica, geologia, bacteriologia, química, entomologia e coisas dessa ordem. Interessou-se pela álgebra antes do tempo e aprendia com espantosa facilidade. A geometria, porém, era um mistério para ele. Justamente por causa dela, aprendeu mais uma das grandes lições da sua vida.
"Foi assim: numa prova parcial, julgou a questão muito fácil e resolveu tudo num abrir e fechar de olhos. Os colegas mal haviam começado a prova e George há havia concluído a sua. Na hora de divulgar as notas, ele se sentiu orgulhoso: tinha certeza de haver conseguido a nota máxima. Qual não foi o seu espanto, quando o professor anunciou:
"- Sr. Carver: zero!
" - Zero, professor? Tenho certeza de que a resposta está certa. Eu conferi.
"- A resposta está certa - garantiu o professor -, mas você partiu de uma hipótese falsa. Nunca se chega a uma resposta correta partindo de um princípio errado.
"Embora arrasado, George sabia que o professor estava com a razão. Aquilo iria servir-lhe para o resto da vida."
Em seguida a isto, nossa companheira considerou que "nossa interpretação desse amor parte de uma premissa falsa", acrescentando não encarar o amor de Deus como esse amor material, vinculado à figura (ao corpo!) humana, salientando que "o amor está nas leis morais".
Marilene citou passagem do livro Jesus no Lar (Neio Lúcio, Espírito/Chico Xavier), na qual conta-se que, durante um surto de peste, um Anjo desceu das alturas para auxiliar certa comunidade, mas necessitava de alguém que se oferecesse como instrumento para essa ajuda; no entanto, os mais qualificados fugiram à colaboração, à custa de pretextos, de modo que o Anjo valeu-se de um criminoso, o qual não regateou a oportunidade, atuando responsavelmente junto ao enviado do Senhor, minorando as dores de seus irmãos. Essa história, desse nossa amiga, serve para afirmarmos constantemente a quem se julga inferior, incapaz de trabalhar pelo bem comum, que ele também é filho de Deus, que o convoca ao trabalho.
E antes que a Coordenação encerrasse a atividade - considerando que não somos nem demasiado humanos em razão de nossa grande tendência ao erro, nem desumanos, por nos vermos por vezes capazes de muitas atrocidades, mas seres em processo de humanização -, Luiza comentou ser difícil definir o amor, ainda que olhemos para uma flor, ou para uma criança, ou uma pessoa agradável, e sintamos amor, porquanto a beleza que nos atrai é amor, o que fez a Coordenação observar que o amor de Deus se nos apresenta como beleza, verdade e bondade...