sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A família de Jesus

Francisco Muniz/Irmã Rafaela

A grande mensagem do Cristo à Humanidade, interpretada excepcionalmente pelo Espiritismo, fala-nos da necessidade do desapego, o que vem a ser nossa libertação dos amarras do materialismo. Desse modo, importa-nos, como bem aconselha o Mestre, conhecer a Verdade a fim de alcançarmos essa tão ansiada liberdade. A esse respeito, a boa compreensão sobre a família de Jesus pode ajudar-nos a quebrar as peias da ilusão criada por nossa vinculação ao elemento material, reconhecendo nossa filiação divina, como espíritos imortais que somos, e assim nos empenhando por pertencermos em definitivo a esse grupamento familiar ao qual o Cristo veio nos convidar, ao dizer suas bem-aventuranças: "Vinde a mim todos vós...".
Como se sabe, Jesus teve sua família nuclear, configurada em José, seu pai biológico, em Maria, sua mãe. No entanto, ele jamais escondeu sua condição de Filho do Homem, referindo-se à Divindade, apresentada por ele, aos homens de todas as épocas, como o Pai misericordioso, Senhor de um Reino de amor e concórdia, o qual cada um de nós deve construir no próprio coração, a fim de o vermos instalado no mundo. De acordo com algumas versões acerca da vida do Celeste Emissário, José era viúvo quando uniu-se a Maria em segundas núpcias, já sendo pai de outros filhos, de modo que Jesus não seria seu primogênito. Entretanto, essa informação carece de autenticação. Conforme o Evangelho, Jesus tinha, sim, outros irmãos, mas estes eram frutos da união entre José e Maria, embora a Igreja afirme que eles não sejam mais que primos do Senhor.
Já que falamos em primos, um deles se destaca na vida de Jesus: João, que depois seria cognominado "o batista", ao assumir a condição, profetizada nas Escrituras, do precursor, aquele que aplainaria os caminhos para o advento do Messias. Filho de Zacarias e Isabel, prima de Maria, João foi um dos vários espíritos que renasceram, àquela época, com a missão de auxiliar o Cristo em seu trabalho de iluminação das consciências. Quando da célebre visita feita por Maria - já grávida - a Isabel, no ventre desta o futuro Batista acusa a presença energética do Cristo e estremece o útero de sua mãe, que nesse momento lhe serve de médium psicofônica, fazendo reverência à mãe do Senhor.
Segundo estudos acerca da vida de Jesus, sabe-se que a História se cala no período entre seus 12 e 30 anos, até que ele comece sua pregação, tendo saído da casa paterna. Nessa ocasião, supõe-se que José já havia desencarnado, mas Jesus, como o primogênito, tinha a obrigação, pelos costumes da época, de cuidar da família, atuando também na carpintaria de seu pai biológico, com quem aprendera o ofício. Por essa razão é que, quando ele faz as primeira pregações em Nazaré, seus conterrâneos estranham, perguntando-se: "Mas não é esse o filho do carpinteiro? Não andava ele entre nós?" Contudo, o evangelista Lucas afirma unicamente que nesses anos silenciosos "o menino crescia em graça e sabedoria"...
Pregando em nome da Verdade, o que fez durante apenas três breves anos, o Cristo reuniu em torno de si um grupo de amigos que lhe constituiu a segunda família. Porém, não foram somente os doze apóstolos ou "os 500 da Galileia" que privaram de sua amizade. Recordamo-nos a esse respeito, de três irmãos da cidade de Betânia pelos quais Jesus manifestava enorme apreço. Eram eles Lázaro, o ressurreto, Marta e Maria, sobre os quais o Evangelho conta belíssimas lições. Mas um dos apóstolos, em especial, Jesus cumulava de amor por praticamente habitar em sua casa, na cidade de Cafarnaum. Referimo-nos a Pedro, o rude pescador em cuja residência o Cristo inauguraria o culto doméstico das luzes imortais do Reino dos Céus, para que o lar fosse doravante um celeiro de paz na Terra ainda ensombrada.
Mas dissemos que o desapego é a lição máxima embutida nos ensinamentos de Jesus e isto fica patente no também célebre episódio narrado no Evangelho dando conta de que um dia a mãe e os irmãos do Mestre foram procurá-lo em casa de Simão (Pedro). Na ocasião, uma multidão comprimia o Cristo no interior da humilde residência, de modo que os visitantes não puderam lá entrar. No entanto, alguém informara ao Nazareno que sua mãe e irmãos se encontravam do lado de fora. Jesus, então, aproveita o momento para ministrar uma belíssima lição que só aqueles com "olhos de ver" e "ouvidos de ouvir" poderiam compreender: "Minha mãe, minha irmã e meus irmãos são todos aqueles que ouvem a palavra de meu Pai que está nos Céus e a praticam".
Os menos esclarecidos nas questões espirituais pensam que, com tais palavras, Jesus repudiou principalmente sua mãe. É sabido que, pelo relato dos evangelistas, os irmãos do Messias não eram todos simpáticos à causa do Reino, tanto que eles foram à casa de Pedro com a intenção de interditar o meigo Rabi por julgarem que este "havia enlouquecido". Mas Jesus era e é o mesmo que ensinou que devemos honrar pai e mãe, reforçando a lei do Decálogo, de forma que a noção de repúdio a Maria é infundada. Ele dava tão somente a lição do desprendimento, que reafirmaria mais tarde, do alto da cruz do martírio, ao ver, a seus pés, sua mãe querida e o apóstolo amado, João, que velhinho escreveria o quarto Evangelho. Manifestando que, em verdade, o que realmente une as almas é o afeto e não o sangue, o Cristo, exangue, diz, referindo-se a uma e a outro: "Mulher, eis aí teu filho; filho, eis aí tua mãe".
Hoje, reinterpretando essas lições, a Doutrina dos Espíritos nos informa que nossa verdadeira família está além dos círculos estreitos da matéria e se concretiza na grande constelação familiar do Espaço, onde todos aqueles que, em nome do Cristo, fazem a vontade de Deus, vivem as alegrias da fraternidade universal!...

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