domingo, 26 de janeiro de 2014

"Ouvistes..."

No Evangelho observa-se que nos momentos todos de explicitar um ensinamento, o Cristo Jesus começava assim: "Ouvistes o que foi dito aos antigos, eu porém vos digo...", como a deixar claro que os "antigos" tiveram a vez deles, mas que os novos tempos exigiam nova mentalidade para a devida compreensão dos fatos. Só assim, através da superação das ideias tradicionalistas, será possível ao homem construir e se pautar pelos verdadeiros ideais, aqueles capazes de libertá-lo de si mesmo, naquilo que tem, ainda, de pequeno e tíbio, quando lhe compete crescer sempre, com coragem e determinação, para os destinos grandiosos que o esperam no futuro.

Precavenha-se dos vícios

Francisco Muniz

Vícios são hábitos nefastos decorrentes das paixões que, por sua vez, têm origem na ignorância dos homens quanto à realidade da verdadeira vida. Embora tudo sejam, afinal, etapas de crescimento do ser em evolução, é preciso estar atento para medir a consequência de nossos atos, seja analisando o efeito desses hábitos em nós mesmos, seja observando o exemplo de outros, com o fim de aprendermos. Sabemos que não devemos julgar - criticar, recriminar ou condenar - o comportamento de quem quer que seja, pelo simples fato de não nos encontrarmos em posição superior a ninguém. O que nos cabe é aprendermos a ser cada vez melhores do que temos sido até aqui.
Os outros também aprenderão, pela força do progresso, lei que obriga todo mundo a andar para frente, não importa quanto tempo leve. Assim sendo, não se pode apontar os erros de ninguém, pois não sabemos (ou sabemos, a depender de nosso estágio de compreensão) quantas vezes erramos naquilo que estamos apontando no outro. Até porque, por força da lei de progresso, cada um de nós está fazendo suas próprias experiências e, desse modo, não se pode dizer que A ou B esteja certo ou errado - somente a consequência desses atos dirá qual foi a qualidade da ação.
Os vícios, portanto, resultam de escolhas momentâneas do ser que ainda não aprendeu a discernir ou que, já tendo aprendido, não consegue vontade bastante forte para trilhar outros caminhos, buscando alternativas para seu livre arbítrio. Aquele que deseja ardentemente sair dessa prisão, contudo, encontrará sempre as opções mais acertadas para modificar comportamentos e atitudes, tanto atendendo aos apelos de pessoas mais esclarecidas, dispostas a ajudar, quanto pelos ensinos contidos em livros especializados nas diversas problemáticas relacionadas ao tema. Mas, uma vez desperto para a necessidade de mudança de atitude, deve-se fazer esforços constantes no sentido de se recuperar e manter o equilíbrio desejado e nisto o Espiritismo surge como um precioso coadjuvante.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O ar do mundo

Francisco Muniz

Homens! Que de grandioso
há no dia em que respirastes
pela vez primeira
o ar do mundo.
Que fizestes desde então
do patrimônio amoroso
com que fostes brindados?
Por certo o fizestes render
a cem por um, ou mil...
Porventura mão sabíeis
que estava sob vossa alçada
a multiplicação dos bens?
Se conseguistes perpetuar-vos
por todos os cantos, ocupando 
as mais remotas e inóspitas
plagas do planeta,
por que não poderíeis também
alimentar-vos uns aos outros
distribuindo com alegria
o que recebestes graciosamente?
Por amor ganhastes o mundo e
só pelo amor o mantereis...

Há paz?

Francisco Muniz

É a paz resultado do entendimento entre os homens? Poderia ser, mas se assim fosse as grandes negociações, os grandes tratados deveriam representar mais que as conquistas temporárias dos líderes de facções beligerantes. E mais: seria muito mais significativo tomar atitudes pacificadoras se se olhasse o ser humano não como uma mera peça no grande quebra cabeças da Humanidade, no jogo de poder entre as nações, mas como individualidades importantes e comprometidas com o progresso geral tanto quanto com o delas mesmas.
Em suma, se os homens se compreendessem seres em evolução, realizando aprendizado no sentido da autotransformação, aí, sim, haveria o entendimento que resultaria na paz. Sendo espíritos ainda inferiores (na imperfeição) quanto à compreensão de si mesmos e comprometidos uns com os outros, os homens naturalmente são guindados ao conflito em suas relações.
O Evangelho, o Espiritismo e o Esperanto - a língua internacional - são algumas respostas para a solução e superação desses conflitos, bastando que as almas e os corações se abram para o esforço do auto melhoramento.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Um novo mundo

Irmã Rafaela

Dos escombros do velho mundo 
um novo mundo há de nascer 
- é da lei que assim seja 
e Deus assim o quer. 
O que não mais se coaduna 
com o modo novo de proceder 
logo encontra sua ruína 
para um novo renascer. 
E assim sucessivamente 
os mundos mudam de feição. 
Onde antes havia o erro 
agora vê-se a perfeição. 
A Lei do Amor Divino, 
comandando os destinos, 
faz o homem amadurecer. 
Que ele acorde, que ele enxergue 
a razão do vir a ser. 
As leis de Deus, soberanas, 
impelem o homem a caminhar 
e o sentido da vida humana 
é o constante aperfeiçoar.
A tudo o Pai está atento,
dando ao homem condição
de trabalhar pelo melhor,
completando a Criação.
Irmãos meus, eu vos convido
a conosco trabalhar
de mãos dadas, sem olvido
à lição que é caminhar.
Nada fica, pois, parado,
tudo mostra a relação
que o Universo tem com Deus
por ser obra em criação.
É da lei que as criaturas
promovam seu bem estar
obrando junto com Deus
a fim de tudo melhorar.

Essa tal felicidade

Em seu livro "Hei de vencer" (Ed. Pensamento), Arthur Riedel(*) conta uma história bastante interessante sobre sua meninice em São Paulo que serve de reflexão para todos aqueles que se encontram no afã de buscar a felicidade. Leiam e tirem suas conclusões:

"Quando eu era menino, existia no Largo da Sé, no velhíssimo Largo da Sé, hoje Praça da Sé, um café na esquina da Rua 15 de Novembro, chamado Café dos Girondinos. Os de mais de meio século devem lembrar-se dele. Eu ia para a escola ali na velha Rua da Boa Morte, hoje Rua do Carmo; passava pelo Café Girondino e ouvia sempre o garção gritar lá dentro: "Sai um pingado!".
Aquele "pingado" que o garção servia me dava então ideia de ser uma coisa grande, deliciosa, e eu, impressionado, não fazia oura coisa senão passar o dia inteiro desejando tomar um "pingado". Mas o empregado que me acompanhava ao colégio não me permitia nunca que eu entrasse no café para tomar o tal "pingado".
O "pingado" era a minha alucinação, o meu sonho, o meu desejo. À noite, sonhava com ele. Uma manhã, quando ia para o colégio, avisaram-me, em casa: "Você hoje tem que ir sozinho; o empregado não pode acompanhá-lo". Que alegria, que satisfação! Iria tomar um "pingado"!
Corri ao meu cofre, daqueles antigos, feitos de barro, quebrei-o, peguei as moedas, enchi o bolso enquanto pensava comigo mesmo: "Será que isto chega para um "pingado"? Entrei no Café, e sentei-me. Nem um rei era tão feliz quanto eu, nem uma noiva no dia do seu noivado! Quando o garção chegou, pedi-lhe, com voz emocionada, um "pingado".
Esperava uma coisa maravilhosa; não sabia o que era, mas a minha imaginação havia criado tal forma, que devia ser uma coisa maravilhosa. O garção gritou lá para dentro, com voz aportuguesada: "Um pingado!" Fiquei esperando. De repente veio o garção e colocou na minha frente um como de leite com um pingo de café: a mesma coisa que eu bebia todas as manhãs em minha casa era o tal "pingado"!
Vieram-me lágrimas aos olhos, joguei um níquel sobre o balcão e saí de lá soluçando. Esta lição ficou-me pela vida afora. Daí em diante, quando me vinha um sonho de glória, um sonho de amor, uma ambição, um desejo, algo que queria muito, eu pensava: Não será um "pingado"? Posso-lhes afirmar que nas poucas coisas pelas quais lutei e venci, alcancei sempre um "pingado". Encontrei um "pingado" em todos os meus sonhos."

Meditemos, pois.

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(*) Arthur Riedel foi um mestre da vida, conforme se lê na orelha da 11.ª edição de seu livro. Professor, articulista e palestrante de dotes inigualáveis, "ensinou milhares de pessoas a serem donas de si mesmas", através de comentários otimistas de cunho espiritualista que podem ser resumidos na frase que dá título a sua obra: hei de vencer! Nesse livro, que reúne algumas das conferências que ele proferiu lá pelos anos 40 do século passado, Riedel, citando um outro autor, dá-nos um mantra com o qual podemos observar e garantir nosso bem estar permanentemente: "Todos os dias, sob todos os aspectos, sinto-me cada vez melhor!" E é verdade.